Direção: Paul Greengrass
Algo terrível vai acontecer para aquele homem. Mas ele
ainda não sabe.
Vai para o aeroporto, de onde seguirá para seu posto
como capitão de um navio que transportará carga do porto de Omã para o Quenia.
No carro, conversa com sua mulher (Catherine Keener) sobre a vida e o futuro dos
filhos:
“- Essas minhas viagens deveriam ficar mais fáceis mas é
o oposto. Agora tudo está mudando tanto... O mundo de nossos filhos também vai
ser muito diferente, Ange. Só os mais fortes
sobrevivem...”
Parece um presságio. O Capitão Phillips (Tom Hanks), de
óculos, fala mansa, nada atlético, vai entrar para a história. Ele será o foco
de um dos episódios que chamou a atenção do mundo todo: o sequestro de um navio
americano, o Maersk Alabama, por piratas somalis em abril de 2009.
A conhecida e perigosa rota do “Chifre da Ásia” vai
fazer mais uma presa. E nós, que conhecemos ou não essa história, vamos ficar
com o coração aos pulos, frente aos acontecimentos e vamos sofrer como a
tripulação do navio, que tenta desesperadamente evitar o confronto com os
somalis.
Em vão.
Quando os magérrimos, assustados e agressivos piratas
sobem a bordo, vestidos com farrapos, a fleugma do capitão e de sua tripulação,
some.
E, o que faz toda a tensão ser ainda mais realista, foi
a ideia que o diretor Paul Greengrass teve de não apresentar os atores
americanos aos somalis:
“- Eu os vi pela primeira vez pelo binóculo, quando
estavam prestes a tomar o navio,” disse Tom Hanks numa entrevista. E ele só foi
entender o que diziam quando viu o filme com legendas. Isso mostra o talento
para contar histórias do diretor inglês, de 58 anos, responsável pelos filmes de
ação com Matt Damon, “A Supremacia Bourne” 2004 e “Ultimato Bourne” 2007, bem
como “Voo United 93” de 2006.
É impressionante o embate dos primeiros olhares entre o
chefe dos piratas e o Capitão Phillips. Ambos expressam o medo que mostra o
perigo daquele enfrentamento e, ao mesmo tempo, quase que lemos, nas palavras
não ditas, o reconhecimento mútuo. Do desempenho dos dois capitães vai depender
o desfecho daquilo tudo.
O novato Barkhad Abdi que faz Muse, o lider dos somalis,
nascido na Somália e que veio pequeno para os Estados Unidos, atua de uma
maneira tão convincente que quase nos esquecemos que ele também é um ator.
Expressa fúria, medo e também esperança de poder viver uma vida melhor na
América (quanta ironia...) com o dinheiro do sequestro. Sabemos pelas cenas
iniciais que a tribo dele tem que pagar altas somas para um bando que explora os
antigos pescadores, transformando-os em feras soltas à procura de sua
sobrevivência.
O roteiro, escrito por Billy Ray, baseou-se no livro do
próprio Capitão Richard Phillips e Stephan Talty e o filme foi rodado em 60 dias
em pleno alto mar.
A fotografia de Barry Ackroyd, que sempre trabalha com
Greengrass, acrescenta nuances à narrativa e ajuda a aumentar o clima de medo
permanente, nos espaços escuros ou muito claros no navio e na baleeira laranja,
sacudida pelas ondas, no que é ajudado pela música de Henry Jackman, ampliando
com seus sons, a tensão já quase insuportável.
Tom Hanks, 57 anos e dois Oscars consecutivos por
“Philadelphia”1993 e “Forrest Gump”1994, já está sendo comentado como forte candidato
ao Oscar de melhor ator. Seu Capitão Phillips é, mais que tudo, um ser humano
tendo que lidar com seus limites de resistência à fome, sede, medo e assim
mesmo, tendo que manter a cabeça pensando, seguir tudo que sabe sobre situações
de perigo como a que está vivendo, sem perder nem mesmo a
compaixão.
E a cena final vale mesmo um
prêmio.
Ninguém sente passar o tempo vendo “Capitão Phillips” de
tanto que o filme nos envolve. Recomendo essa experiência para você
também.
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