Direção: Denis
Villeneuve
Uma floresta sob a neve.
Uma voz de homem reza o “Pai Nosso”. Um cervo aparece entre as árvores. O tiro
de um rifle mata o animal.
Na estrada, sob a chuva,
o pai fala para o filho:
“- Estou orgulhoso de
você! Foi um belo tiro.”
E a carcaça do animal jaz
inerte, na parte traseira da caminhonete.
Prazer e morte. Mau
presságio.
Um dos gêneros que mais
agrada a quem gosta de cinema, sempre foi o “thriller”, o filme de suspense.
Mas, fazer um filme desses, não é para qualquer um.
Por que? Muitos elementos
são necessários nessa empreitada na qual, mais que tudo, o roteiro tem que ser
inteligente e ter ingredientes que atraiam a curiosidade.
“Os Suspeitos” do diretor
canadense Denis Villeneuve
(do ótimo
“Incêndios”2011), consegue preencher esses requisitos com sucesso. Temos aqui um
filme excelente.
Contando com um roteiro
bem escrito por Aaron Guzikowski, prende o espectador e o incentiva a prestar
atenção em todos os detalhes em cena, capturados que somos pelo mistério do
desaparecimento de duas meninas, numa tarde de feriado do dia de Ação de Graças
na América, num bairro de classe média, atingindo dramaticamente duas famílias,
uma de brancos (Hugh Jackman e Maria Bello, os pais de Anna) e outra de negros
(Viola Davis e Terrence Howard, os de Joy).
Chove muito. A neve
enlameada e o frio são o cenário ideal para esse clima que se abate, não só
sobre as duas famílias mas também sobre a comunidade local.
A fotografia de Roger
Deakins abusa de tons terrosos e sujos, para reforçar a ideia de tristeza e
decepção dramática.
O detetive Loki (Jake
Gyllenhaal, talentoso), tem fama de resolver todos os casos que investiga mas
vai ter que encarar a frustração e bater de frente com o pai de Anna, uma das
desaparecidas, violento e destemperado, na pele de um sempre excelente ator que
é Hugh Jackman (o Jean Valjean de “Os Miseráveis”).
Os dois homens não podem
ser mais diferentes na forma de externalizar suas emoções, o que cria um atrito
constante. O detetive compenetrado e racional e o pai furioso, sem controle, que
quer levar tudo na base da força bruta e do castigo. Certamente, no passado está
a chave desse comportamento que beira a loucura de um e da contenção exagerada
do outro.
Um rapaz que é doente
mental (Paul Dano) e que é visto por perto do local onde as meninas estavam, num
trailer velho, é preso e sua tia (Melissa Leo), que afirma que o sobrinho é
inofensivo, são envolvidos pelo clima de desespero que toma conta de
todos.
O fanatismo religioso, a
sexualidade bizarra, o trauma, a loucura, tudo se mistura para produzir um
resultado que estimula uma angústia crescente na plateia, que acompanha o
frenesi dos envolvidos no caso do desaparecimento das
crianças.
“Os Suspeitos” é um
suspense como há muito não se via, que nos interroga sobre até onde podemos ir
quando acreditamos que estamos certos. Ou seja, pergunta se estamos preparados
para enfrentar a tentação de justificar a maldade.
Não
perca.
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