terça-feira, 15 de outubro de 2013

Gravidade


“Gravidade”- “Gravity”, Estados Unidos/ Inglaterra 2013
Direção: Alfonso Cuarón

A doce curvatura da Terra azul preenche a tela. Silêncio.
Imagens deslumbrantes em 3D mostram pessoas que trabalham em trajes de astronautas no espaço, onde a vida é impossível, a 600 km do nosso planeta.
O grande passo que a humanidade deu, quando o primeiro astronauta pisou a Lua, segue seu curso. Homens e mulheres trabalham dentro e fora dos veículos espaciais que gravitam em órbita da Terra.
A Dra Ryan (Sandra Bullock), engenheira-médica, novata no espaço, conversa com Houston em terra firme, enquanto faz um reparo na nave. Chega perto dela outro astronauta, o veterano Matt Kowalski (George Clooney), que consegue pegar um parafuso que se soltara da mão dela.
“- Desculpe. Eu trabalho num laboratório onde as coisas caem no chão”, brinca ela.
Os dois ouvem Houston informando:
“- Uma estação russa foi atingida e criou uma nuvem que pode atrapalhar vocês.”
Mas eles trabalham tranquilos.
“- A vista daqui é inigualável”, diz Kowalski olhando para a Terra. E continua:
“- O que você gosta mais aqui?”
“- Do silêncio”, responde ela.
“- Tenho um mau pressentimento sobre essa missão. O mesmo que senti em 19997 num Carnaval...” e ele continua a contar um caso, quando ouve-se uma voz alarmada:
“- Explorer! Aqui é Houston. Missão abortada. Restos de um míssil atingiram outra nave e a nuvem de detritos é perigosa.”
Kowalski diz para a dra Stone:
“- Melhor voltarmos.”
De repente, toda aquela aparente tranquilidade se transforma em desespero e terror.
Assistimos a tudo apavorados, como se estivéssemos lá, com eles. De um momento para o outro, a nave é atingida e a Dra Stone é arremessada para longe e cai para cima, em direção a um vazio de um turbilhão de estrelas.
Com o coração apertado, escutamos sua respiração curta, em estado de pânico e a vemos girando e girando.
“Gravidade” é um filme que toca a todos os humanos, porque trata de nossos medos mais primitivos. Faz com que a plateia sinta o perigo mortal e lento da asfixia, o pavor de cair para sempre e o horror de sentir-se impotente para controlar uma situação que pode ser aniquiladora.
Nossa fragilidade está em primeiro plano, companheira de uma solidão total.
E o paradoxo, que tanto o roteiro como o modo de filmar  da câmera nos mostram, é que, apesar de percebermos que somos como a Dra Stone, um quase nada perante a força da destruição à volta dela, também somos aquela fagulha humana que consegue recuperar o controle e ter esperança.
O filme concretiza uma condição psíquica depressiva, claustrofóbica, na qual se é levado a crer que a morte, o largar-se, seria a única opção. Mas ir até o limite do insuportável, faz descobrir novas forças e coragem para enfrentar o que se imaginava, antes, que era uma situação sem saída.
Não à toa, a Dra Stone vivia na Terra um luto patológico. Precisou quase perder a vida para valorizá-la e acreditar de novo em razões para viver.
A fotografia de Emmanuel Lubezki cria imagens que guardamos como quadros em nossa mente, enquanto que o roteiro, co-escrito pelo diretor mexicano de 51 anos, Alfonso Cuarón (que dirigiu o aclamado “Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban” 2004) e seu filho, o também diretor Jonás Cuarón, conta uma história simples e terrível, quase sem diálogos e alguns monólogos.
Sandra Bullock consegue mostrar um talento, até então escondido, que comove. Seja no corpo cansado, assumindo a posição fetal, flutuando, quando consegue se livrar do pesado traje de astronauta, seja em seu rosto expressivo, olhando a inesquecível lágrima que flutua em frente aos seus olhos. Momentos que são o umbigo emocional do filme.
“Gravidade” beira o sublime. Imperdível.

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