Direção: Marion
Vernoux
Quantos belos dias
teremos ainda em nossa vida?
Essa pergunta não é para
os muito jovens. Nem mesmo para os que ainda estão entre os 40 e os 50
anos.
São as pessoas de 60 que
começam a se fazer essa pergunta que não tem resposta certa.
Caroline (Fanny Ardant,
elegante e bela) perdeu sua melhor amiga para um câncer e sombra num luto que
todos confundem com enfado.
Ela era dentista e se
aposentou depois de uma feia discussão com uma cliente. Agora tem tempo de
sobra. Para quê?
O pior de tudo é que
ninguém se dá conta da culpa que Caroline arrasta para um clube de aposentados,
onde o marido (o ótimo Patrick Chesnais) e as duas filhas nos trinta, casadas e
com filhos, acham que ela se distrai.
O clube de aposentados
“Beaux Jours” é um lugar que deprime Caroline mais do que ela pode suportar.
Mas lá vai ela, como um
castigo, às aulas de teatro, cerâmica, yoga e enologia. Nessa última, ela está
mais interessada em beber do que aprender o que já sabe. Ela é uma mulher
sofisticada e deprimida.
Eis que, de repente,
surge Julien (Laurent Lafitte), o professor de informática, um sedutor que atrai
Caroline para sua rede. E ela não reclama.
Ele é bonito, alto, sexy
mas vulgar e paquerador. Tem idade para ser seu filho.
Alguns, irão explicar
esse caso de uma mulher mais velha com um homem mais jovem e com tempo de sobra
(como diz sua filha), como uma busca pela juventude, pelos “belos
dias”.
Outros, percebendo que
Caroline está de luto, vão dizer que ela se engana com o amante, para não pensar
na morte da amiga, que a tortura e enche de culpa e medo inconfessáveis.
A diretora Marion Vernoux
não emite julgamentos morais. Só mostra o que acontece e nós deduzimos o que vai
acontecer.
“Os Belos Dias” foi
adaptado do romance “Une Jeune Fille aux Cheveux Blancs”, que pode ser traduzido
como “Uma Garota de Cabelos Brancos”, escrito por Fanny Chesnel, que foi
co-autora do roteiro com a diretora. Os diálogos são bem naturais e nos momentos
em que Caroline passeia pela praia, ao por do sol, aproveitando seus belos dias,
a luz é suave e romântica.
A verdade é que não é
fácil envelhecer. Para ninguém. Muito menos para uma mulher bela, que quer ter
um espelho amoroso que a faça esquecer da decadência inevitável.
Fanny Ardant, que sempre
foi um ícone de mulher no cinema, conhece o que é passar por um luto. Sua
personagem perde a amiga e ela perdeu o amor de sua vida, o diretor François
Truffaut (1932-1984), aos 35 anos. Só ela sabe como conseguiu superar isso. Está
envelhecendo muito bem, como se pode ver no filme, elegante e bela aos 64
anos.
“Os Belos Dias” é um
filme agridoce. Divertido para quem está de fora e não se preocupa ainda com a
contagem regressiva. E levemente amargo para os demais.
Mas, ajuda a estes
últimos porque induz a uma reflexão que todos que gostam da vida deveriam
fazer.
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