“O Capital”- “Le Capitale”, França,
2012
Direção:
Costa-Gravas
Ninguém dava nada por
ele.
Assistente “faz-tudo” do presidente do
Banco francês Phoenix, chegou até a escrever um livro para ele. Com o tempo,
tornou-se indispensável para o patrão mas permanecia apagado aos olhos dos
grandes executivos.
Foi assim até que o todo poderoso do
banco ficou doente.
Para surpresa geral, o assistente foi
indicado como sucessor pelo próprio presidente. Mas ninguém se preocupou com
isso. Para todos, seria uma marionete nas mãos dos que mandavam no
banco.
Grande engano. Empossado, Marc Tourneil
vai aguçar o olhar e mostrar os dentes.
Sua ascensão vai ser fulminante. E os
métodos que ele vai empregar nessa subida, detestáveis.
Marc (na pele de Gad Elmaleh, marroquino, 42 anos, noivo de
Charlotte Casiraghi, 27 anos, filha de Caroline de Monaco) vai mostrar a todos a
que veio. Inteligente, frio, muito ambicioso, ele adora o
poder.
“- Eles querem um presidente barato”,
diz para sua mulher (Natasha Régnier).
“- Mas 150 mil euros por mês não são
suficientes para você?”
“- Dinheiro é poder. Eu quero mais.
Assim serei respeitado.”
E contrata um ex-policial para
investigar tudo e todos.
“- Vasculhe o lixo. Quero saber quem
está contra mim.”
E já como presidente, toma decisões
nada ortodoxas. Sua primeira medida é anular o crédito para pequenas empresas,
que tem baixo retorno e acabar com os projetos ligados a novas tecnologias
visando a proteger o meio ambiente:
“- Vou por no mercado os produtos
tóxicos. Para a imprensa, sublinhem nossa preocupação com o crescimento da
Europa.”
Mas um grupo de acionistas americanos,
que tem um porta-voz duro (Gabriel Byrne), quer comprar o banco francês e não
pagar nada por ele. Para isso precisam que o novo presidente trabalhe para eles.
Toda espécie de suborno e ameaças são usados. Como isca, uma top-model, na fraca
interpretação da modelo Liya Kebede, faz um jogo de sedução que envolve o
deslumbrado Marc.
Aqui vemos claramente que Costa- Gravas
não quer denunciar só um sistema financeiro mas quer mostrar a mentalidade dos
que estão circulando em torno a ele.
Marc Tourneil só se interessa pelo jogo
da conquista. Corre atrás da moça e a suborna com empréstimos cada vez mais
altos. Mas para quê? O desejo dele está envenenado e sua libido só responde a
triunfos.
As demissões em massa valem bônus para
ele. Trinta milhões de euros. Marc consulta um especialista em “off
shores”:
“- É na crise que se fazem as grandes
fortunas. Mas precisamos proteger nosso dinheiro”, comenta o
consultado.
Com o roteiro adaptado do livro de 2004
de Stéphane Osmont, pseudônimo de um executivo que trabalhou no governo francês
e em grandes instituições financeiras europeias, “O Capital”, alusão ao livro de
Karl Marx, descreve muito bem o sistema reinante, o capitalismo “cowboy” dos
acionistas americanos e, principalmente, o perfil psicológico raso daqueles que
mandam no dinheiro, alheios aos pequenos e pobres.
Marc Tourneil, intitulado o “Robin Wood
dos ricos”, tem um tom de farsa e ironiza aqueles que gravitam em torno ao
dinheiro, que é o que traz poder no mundo de hoje.
Aos 80 anos, o diretor grego
naturalizado francês, de filmes políticos antológicos como “Z”1969, sobre a
ditadura militar na Grécia e “Desaparecidos”1982 sobre o Chile, ainda sabe
conquistar o público. Em “O Capital” seu tom é de sarcasmo e de denúncia da
frieza e desumanidade do mundo financeiro.
O ritmo do filme tem suspense e a
produção de arte se esmera nos detalhes que mostram riqueza. Assim, vemos
coquetéis nos salões exclusivos do Louvre, desfiles de alta costura, jatinhos,
barcos com champagne e mulheres à vontade, restaurantes e hotéis de luxo e
escritórios decorados com mestres da pintura que valem milhões. Mas não há alma
nesses cenários maravilhosos. Só cobiça e jogo sujo.
“O Capital” ensina a quem não sabe, sem
perder o humor sarcástico e sem medo de denunciar os males dos nossos
tempos.
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