sábado, 12 de outubro de 2013

O Capital




“O Capital”- “Le Capitale”, França, 2012
Direção: Costa-Gravas

Ninguém dava nada por ele.
Assistente “faz-tudo” do presidente do Banco francês Phoenix, chegou até a escrever um livro para ele. Com o tempo, tornou-se indispensável para o patrão mas permanecia apagado aos olhos dos grandes executivos.
Foi assim até que o todo poderoso do banco ficou doente.
Para surpresa geral, o assistente foi indicado como sucessor pelo próprio presidente. Mas ninguém se preocupou com isso. Para todos, seria uma marionete nas mãos dos que mandavam no banco.
Grande engano. Empossado, Marc Tourneil vai aguçar o olhar e mostrar os dentes.
Sua ascensão vai ser fulminante. E os métodos que ele vai empregar nessa subida, detestáveis.
Marc (na pele de Gad  Elmaleh, marroquino, 42 anos, noivo de Charlotte Casiraghi, 27 anos, filha de Caroline de Monaco) vai mostrar a todos a que veio. Inteligente, frio, muito ambicioso, ele adora o poder.
“- Eles querem um presidente barato”, diz para sua mulher (Natasha Régnier).
“- Mas 150 mil euros por mês não são suficientes para você?”
“- Dinheiro é poder. Eu quero mais. Assim serei respeitado.”
E contrata um ex-policial para investigar tudo e todos.
“- Vasculhe o lixo. Quero saber quem está contra mim.”
E já como presidente, toma decisões nada ortodoxas. Sua primeira medida é anular o crédito para pequenas empresas, que tem baixo retorno e acabar com os projetos ligados a novas tecnologias visando a proteger o meio ambiente:
“- Vou por no mercado os produtos tóxicos. Para a imprensa, sublinhem nossa preocupação com o crescimento da Europa.”
Mas um grupo de acionistas americanos, que tem um porta-voz duro (Gabriel Byrne), quer comprar o banco francês e não pagar nada por ele. Para isso precisam que o novo presidente trabalhe para eles. Toda espécie de suborno e ameaças são usados. Como isca, uma top-model, na fraca interpretação da modelo Liya Kebede, faz um jogo de sedução que envolve o deslumbrado Marc.
Aqui vemos claramente que Costa- Gravas não quer denunciar só um sistema financeiro mas quer mostrar a mentalidade dos que estão circulando em torno a ele.
Marc Tourneil só se interessa pelo jogo da conquista. Corre atrás da moça e a suborna com empréstimos cada vez mais altos. Mas para quê? O desejo dele está envenenado e sua libido só responde a triunfos.
As demissões em massa valem bônus para ele. Trinta milhões de euros. Marc consulta um especialista em “off shores”:
“- É na crise que se fazem as grandes fortunas. Mas precisamos proteger nosso dinheiro”, comenta o consultado.
Com o roteiro adaptado do livro de 2004 de Stéphane Osmont, pseudônimo de um executivo que trabalhou no governo francês e em grandes instituições financeiras europeias, “O Capital”, alusão ao livro de Karl Marx, descreve muito bem o sistema reinante, o capitalismo “cowboy” dos acionistas americanos e, principalmente, o perfil psicológico raso daqueles que mandam no dinheiro, alheios aos pequenos e pobres.
Marc Tourneil, intitulado o “Robin Wood dos ricos”, tem um tom de farsa e ironiza aqueles que gravitam em torno ao dinheiro, que é o que traz poder no mundo de hoje.
Aos 80 anos, o diretor grego naturalizado francês, de filmes políticos antológicos como “Z”1969, sobre a ditadura militar na Grécia e “Desaparecidos”1982 sobre o Chile, ainda sabe conquistar o público. Em “O Capital” seu tom é de sarcasmo e de denúncia da frieza e desumanidade do mundo financeiro.
O ritmo do filme tem suspense e a produção de arte se esmera nos detalhes que mostram riqueza. Assim, vemos coquetéis nos salões exclusivos do Louvre, desfiles de alta costura, jatinhos, barcos com champagne e mulheres à vontade, restaurantes e hotéis de luxo e escritórios decorados com mestres da pintura que valem milhões. Mas não há alma nesses cenários maravilhosos. Só cobiça e jogo sujo.
“O Capital” ensina a quem não sabe, sem perder o humor sarcástico e sem medo de denunciar os males dos nossos tempos. 

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