“Uma Mulher Alta”-“Dylda”, Rússia, 2019
Direção: Kantemir Balagov
Quando aconteceu o fim do cerco de Leningrad (antes e hoje
em dia, São Petersburgo) que durou de agosto de 1941 a janeiro de 1944,
contavam-se um milhão e quinhentos mil mortos na cidade que, quando começara o
cerco pelas tropas alemãs, tinha dois milhões e meio de habitantes.
Além da fome, havia medo, doenças e crimes. A distinção
entre o bem e mal estava borrada. Todos lutavam pela sobrevivência como podiam.
É no cenário do fim do cerco da cidade que o diretor
Balagov, 27 anos, situa seu segundo filme, inspirado pelo livro “A Guerra não
tem Rosto de Mulher”, escrito pela vencedora do Nobel de Literatura, Svetlana
Aleksiévitch. É então através do olhar e dos acontecimentos que envolvem duas
mulheres jovens que o diretor, discípulo de Alexei Sakurov, vai contar sua
história.
Iya (Viktoria Miroshnichenko) é a “mulher alta” do título do
filme, a “varapau”, a “grandona” como a chamavam. Ela é enfermeira no hospital
da cidade que recebe os restos de soldados que sobreviveram no front. Homens
sofridos. Muitos esperam a morte como um alívio aos traumas pelos quais
passaram.
Iya sofre de crises de ausência, devido a uma concussão
cerebral. Ela fica estática, olhos de cílios brancos mirando o vazio. Todos se
acostumaram a vê-la assim no hospital. Ela é muito loura, quieta, mas doce e
paciente com os soldados de quem cuida.
Pashka, um menino de uns 5 anos está sempre com Iya. Ela
cuida e brinca com ele no quarto da casa de cômodos onde moram. Ele a chama
“Mamãe”. Para a grande infelicidade de Yia, durante uma dessas brincadeiras,
aconteceu uma tragédia.
E, quando Iya vê a mala vermelha de Masha (Vasilisa
Prelygina) em sua porta quando volta do hospital, fica muito aflita porque não
sabe como contar o que acontecera para a amiga, que estava no front e confiara
a ela o filho pequeno.
Mas não há como não dizer a verdade, mesmo que não
inteiramente. A partir daí Masha vai querer que Iya lhe dê um filho, já que ela
ficara impossibilitada de ter filhos por coisas que aconteceram no front.
Para aquela geração traumatizada pela guerra e o cerco
infernal, tudo estava perdido e não haveria recuperação possível. Era preciso
mais do que reconstruir a cidade. Era preciso curar as feridas nas almas das
pessoas desumanizadas.
É essa geração de uma vida nova, que Masha tanto insiste que
quer e crê que vai ser o que salvará as duas mulheres do vazio em que vivem.
Com uma criança entre elas haveria a esperança de um futuro a ser construído.
A direção de arte e os figurinos do filme usam tonalidades
de verde e vermelho nas paredes, decoração e nas roupas das personagens
femininas. Um toque de beleza em meio a tanta miséria humana.
O diretor Kantemir Balagov foi premiado como melhor diretor
no Festival de Cannes na Mostra “Un Certain Régard”. Seu filme é o
representante da Rússia no Oscar de melhor filme internacional e está entre os
10 selecionados na primeira lista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário