sábado, 14 de dezembro de 2019

Synonymes




“Synonymes”- Idem, França, Israel, Alemanha, 2019
Direção: Nadav Lapid

Ele buscava um lugar para ser, existir como pensava que seria melhor.
A França é escolhida por Yoav (Tom Mercier ) como uma espécie de paraíso sonhado, bem diferente de sua terra natal, Israel. Troca Tel-Aviv por Paris, mochila nas costas.
Mas, já na primeira noite lá, num apartamento emprestado, é confrontado por algo que não esperava. Roubam tudo que ele tem. E é tão pouco. Deixam Yoav nu e quase congelado de frio.
Na manhã, é encontrado pelos vizinhos, Émile (Quentin Dolmaire) e Caroline (Louise Chevillotte), que vão ser seus pontos de referência, “pai e mãe” que dão conforto e compreensão. Eles o salvam da morte, aquecem e alimentam.
Refeito, Yoav parte para sua nova vida com roupas de Émile, dinheiro, celular e um dicionário roubado numa livraria. Recusa-se a falar hebraico. Mas seu francês não é tão bom quanto gostaria que fosse. Claro, ele leu mais do que ouviu falar francês. E isso vale também para o estilo de vida que experimenta em Paris. Pouco sabe sobre isso.
Frente ao Sena com Émile, despeja uma porção de palavras detestáveis para qualificar Israel. O amigo, surpreso, responde:
“- É melhor você escolher uma só dessas palavras. Nenhum país é tudo isso que você falou! ”
Logo virá a decepção. Yoav se engana mas não é fácil admitir.
Anda de cabeça baixa frente ao Sena e à Notre Dame, para não se deixar levar pela beleza e perder a rota para o coração de Paris, que ele procura. E não acha. Talvez porque está diante dele mas ele não vê. Assim como é difícil aceitar sua própria identidade colada à sua pele da qual não pode fugir.
Nadav Lapid, 44 anos, o diretor israelense, viveu o que encena em “Synonymes”, quando tinha 20 anos e foi morar na França. Como Yoav, levava tudo a ferro e fogo, sem nuances. Não conseguia tirar de dentro de si aquilo que tentava negar. Projetava no mundo que abandonara algo que o perseguia onde quer que fosse.
Hoje, distanciou-se desse radicalismo da juventude. Amadureceu. Mas diz que seu filme não é para ser “palatável” para o público. Lapid quer chocar, envolver e tirar o espectador da zona de conforto habitual.
E consegue.
“Synonymes” ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim desse ano.


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