Direção: Rian Johnson
Quando vemos o casarão com tintas de mal assombrado e os
cães negros correndo em primeiro plano, percebemos que há ali uma intenção de
fazer humor pelo exagero.
E quando entramos na casa, os objetos de gosto duvidoso,
necessários à trama, confirmam o tom caricaturesco de “Entre Facas e Segredos”.
A casa do escritor de livros de mistério, Harlan Trombley (Christopher Plummer)
é quase um personagem da história. Escura, com escadas e janelas secretas, é o
perfeito cenário para um crime.
Mas, quem leva uma caneca de café da manhã com os dizeres
“Minha casa! Minhas Regras! ” para o dono dela, é uma mocinha bonita e
prestativa. Vai encontrar um cenário assustador. O escritor, que acabara de
fazer 85 anos, jazia ensanguentado no sofá.
Uma semana depois, nos damos conta de que vimos um suicídio.
Será mesmo?
A mocinha (Ana de Armas) que encontrou o morto, está na sala
com a família do escritor de quem era a enfermeira.
“- Marta, qualquer coisa que você precise, é só falar. Você
é parte dessa família ” diz alguém num tom falsamente solícito.
Os membros da família e Marta vão ser interrogados pela
polícia, presente na casa.
Aos poucos vamos acompanhando os relatos de cada um e
ficamos sabendo o que cada um deles conta sobre a festa dos 85 anos do
escritor, na véspera de sua morte.
Numa poltrona ao fundo da sala, um homem observa o que se
passa. Ele é o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), famoso por trabalhar para
celebridades.
Mas quem o contratou? Nem ele sabe. Um envelope com dinheiro
foi mandado, convocando-o para a reunião da família do escritor morto.
Os dois filhos (Michael Shannon e Jamie Lee Curtis) e a
viúva do terceiro (Toni Colette) não parecem entristecidos ou chocados. Todos
respondem às perguntas do policial com um ar arrogante. Na sala estão também os
netos (Chris Evans, Katherine Langford e Jarden Martell).
Todos são suspeitos mas se dizem inocentes, aproveitando o
interrogatório para lançar as suspeitas sobre os outros. São egoístas e sempre
viveram explorando o morto, que era o dono do dinheiro, vindo da venda de seus
livros best-sellers.
Marta, a enfermeira latina, é a única que parece sentir a
perda do patrão para quem trabalhava desde muito jovem. Ficaram amigos e ele se
preocupava porque a mãe dela era uma imigrante ilegal.
Rian Johnson diz que levou 10 anos escrevendo o roteiro e os
acontecimentos no país relacionados a imigrantes só vieram reforçar o que ele
já havia escrito. Os muito ricos e seus serviçais latinos que são “como se
fossem da família” são um clichê americano.
“Entre Facas e Segredos” torna-se um filme crítico dessa
postura quando Marta, a latina, ora uruguaia, ora brasileira, fica no centro do
palco, como a suspeita ideal.
O filme foi sucesso de bilheteria nos Estados Unidos e por
onde passou. É entretenimento bem feito, com boas cenas para cada um dos atores
do grande elenco poder brilhar. Até mesmo quando muito breves como a da bisavó
(K. Callan).
Daniel Craig e a cubana Ana de Armas foram indicados como
melhores ator e atriz de comédia no Globo de Ouro e “Entre Facas e Segredos”
obteve indicação de melhor filme de comédia.
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