“Sete
Minutos Depois da Meia Noite”- “A Monster Calls”, Estados Unidos, Espanha, 2016
Direção: J.
A. Bayona
É sempre
difícil crescer. Porque significa não só ficar maior em tamanho, mas
aprofundar-se nos mistérios da própria natureza humana em nós mesmos.
E, quando
tudo corre bem, pode ser que algo aconteça inesperadamente e, de repente, o
mundo parece um lugar horrível de se viver.
Na história
que o filme conta isso acontece com Connor (Lewis MacDougall, ótimo), 13 anos,
que vive na Inglaterra. Ele “é velho demais para ser uma criança mas jovem
demais para ser um adulto”. E vai ter que enfrentar algo que não quer aceitar.
Connor vive
com a mãe (Felicity Jones), a quem é muito ligado. Vemos ele dormindo e
debatendo-se com um pesadelo. Tudo desmorona e a mãe agarra sua mão para não
cair no precipício... e ele acorda, sempre no mesmo momento daquele sonho
recorrente.
Faz o
próprio café. Entreabre a porta do quarto da mãe e ela está dormindo. Sai de
casa e reparamos no jardim mal cuidado. Ele caminha para a escola ao longo do rio,
perdido em seus pensamentos.
Na aula
está longe, desenhando em seu caderno. O professor percebe e pergunta:
“- Você
parece cansado.Tem dormido bem?”
No recreio,
três meninos maiores que ele se irritam com Connor e ameaçam:
“- Você
está perdido em seus sonhos. O que há de tão interessante? Meninos bonzinhos
não falam?” e um deles joga ele no chão e puxa sua língua. Connor não revida.
Castigo necessário para sua culpa? O que fez de tão errado?
Volta para
casa e a mãe tem algo para lhe mostrar. Traz o antigo projetor do avô e
preparam-se no sofá para ver um filme. É “King Kong” de 1933:
“- Por que
querem matá-lo?”
“- Porque
estão com medo. Não o conhecem”, responde a mãe que adormece. Connor vê a cena
final quando King Kong, atingido, despenca do alto do prédio.
O título em
inglês do filme é melhor do que o português:
“A Visita
do Monstro”. Por que é exatamente isso que acontece.
Chove muito
e Connor vai até a janela de seu quarto.
Galhos
secos de uma grande árvore se alongam, olhos de fogo se abrem e um gigante vem
em sua direção. A voz de Liam Neeson, majestosa e assustadora, ecoa forte:
“- Eu vim
pegá-lo Connor O’Maley. Por que não corre para sua mãe?”
“- Deixe-me
em paz. Não tenho medo de vc.”
“-
Voltarei. Vou te contar três histórias e no final você contará a quarta, a
verdade que você esconde. O seu pesadelo.”
O tema do
filme, difícil, é tratado de maneira envolvente e delicada. A mãe de Connor
está muito doente e, embora ele a veja definhar, os dois acreditam que ela vai
se curar.
A histórias
que o Monstro conta, sempre às 24:07 são ilustradas com desenhos simples e
belos. Todas tem uma moral, uma lição de vida para o menino.
Quando a
vida real mostra seu lado duro, ele vai ter que morar com a avó (Sigourney
Weaver), já que o pai que o abandonou quando era um bebê mora longe e não
parece querer ficar com ele. Isso inunda Connor de raiva e vontade de destruir
tudo à sua volta. Na escola fica muito agressivo. Parece que pede punição.
E, quando
vem a hora, o Monstro pede que ele conte seu pesadelo.
Essa
mistura de realidade com ficção torna o filme esteticamente eloquente, já que
as imagens falam mais que mil discursos.
O espanhol
J. A. Bayona dirige seu filme com arte e não tem medo de lidar com sentimentos
de luto e culpa.
Guilhermo
del Toro, o mago mexicano, é uma espécie de
tutor de
Bayona, que tem afinidades com o mestre de “O Labirinto do Fauno”, ao lidar com
a fronteiras entre a realidade e o sonho.
Apesar de
triste, “Sete Minutos Depois da Meia Noite” nos envolve também com uma lição de
vida, ensinada por um Monstro que habita cada um de nós. É só escutá-lo.
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