“A Última
Loucura de Claire Darling”- “La Dernière Folie de Claire Darling”, França, 2018
Direção:
Julie Bertuccelli
Nas
primeiras cenas do filme já fica claro que a menina Marie precisa mais da mãe
do que a mãe dela. Mas Claire, a mãe, compreende que um pouco de carinho é
necessário, principalmente porque já se sente culpada. Ela vai sair e deixar a
filha sozinha.
E o carinho
dela é tirar o relógio com o elefante da sala e colocar no quarto da menina.
Como companhia ela terá o tempo, as engrenagens do relógio, o barulho das horas
e minutos e a preciosa tromba que se mexe, dando vida àquela peça original.
Este é o
prólogo.
Mas já é
dia. Quem é aquela na cama? Marie? E, mais intrigante ainda, porque ao acordar
ela fala com evidente irritação:
“- Mas
afinal quem é você?”
Os personagens que visitam Claire em
sonhos vão desfilar ao longo do filme. Uma vida passada a limpo em 24 horas?
Não. Mas vamos ver com ela o que ficou na memória, vivido, sonhado ou alucinado
por essa colecionadora que tem uma casa linda, recheada de objetos, os mais
diversos, mas todos preciosos.
Acontece que Claire teve uma
intuição de que aquele seria seu último dia de vida. Por isso ela decide
esvaziar a casa e vender, aliás quase doar, suas preciosidades porque não vai
poder levar nada para onde vai.
O filme parece ser uma mistura de
sonho e realidade. Existem os objetos, existem os mortos e os vivos que ela não
vê há muito tempo. E existem as recordações.
Marie, a filha que abandonou a casa
ao ser acusada de ladra, vai voltar porque uma amiga se preocupa com o que está
acontecendo com Claire.
O filme se baseia no livro de Linda
Rutledge, “Faith Ben Darling’s Last Garage Sale” e a diretora se diz uma
colecionadora como a personagem Claire. Ficou encantada com o livro e escolheu
mãe e filha de verdade para ser Claire (Catherine Deneuve, sempre uma presença
magnífica) e Marie (Chiara Mastroianni).
Vamos ver as duas em diferentes
fases da vida interpretadas por Alice Taglioni, que faz Claire jovem mãe e
Colomba Giovanni que é Marie menina.
Como quase tudo é um sonho ou
alucinação, nos atrapalhamos até entender que os personagens que se cruzam são
elas, em diferentes tempos de vida. Aliás, nem ficamos sabendo direito o que é
verdade e o que não aconteceu mas foi sonho ou pesadelo de Claire.
Há belas cenas na floresta à noite,
o desfile das noivas, as bicicletas nas árvores e o tesouro de Marie.
Tudo se passa na fronteira entre o
que é vivido e lembrado e muitas vezes distorcido pelas engrenagens da memória,
que parece ser a doença de Claire.
Não importa. É um filme sobre mãe e
filha e tudo que aconteceu quando sumiu um anel que era um amuleto de
felicidade.
E o filme termina com a cena da
explosão silenciosa, bela metáfora para o fim da vida.
Um filme poético.
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