“Eu Não Sou
Bruxa”- “I Am Not a Witch”, Inglaterra, Zâmbia, França, 2017
Direção:
Rungano Nyoni
Um início
abrupto. Ao som de Vivaldi e violinos, pessoas sacudindo num ônibus. Quando
chegam ao seu destino, encontram uma cena surreal. Mulheres negras sentadas no
chão, caladas.
Seus rostos
tem marcas e pintura branca. De cada uma delas sai uma longa fita branca, presa
nas costas e que se enrola em enormes carretéis.
“- Por que
essa fita?”, pergunta o turista ao guia.
“- Para
impedir de voarem.”
“- Mas até
onde voariam?”
“- Até o
Reino Unido. Voam para matar. Com a fita ficam inofensivas.”
A jovem
diretora e roteirista, Rungano Nyori, 37 anos, nasceu em Lusaka, Zâmbia e foi
criada no País de Gales para onde sua família se mudou. Este é seu primeiro
longa. E nele ela denuncia a existência dos chamados “campos de bruxas”, onde
vivem mulheres negras acusadas de bruxaria. Lá as condições de vida são
desumanas e elas trabalham de graça em fazendas do governo.
A diretora
visitou um desses campos em Gana e inspirou-se para escrever o roteiro do
filme.
A história
centra-se numa menina de 9 anos, órfã, acusada de ser uma bruxa.
As
testemunhas depõem para uma policial. Um diz que sonhou que foi atacado por
ela. Outra emenda dizendo que a água que tirara do poço perdeu-se quando a
menina apareceu em sua frente. Outra ainda acrescenta:
“- Senhora,
essa criança é uma bruxa. Coisas estranhas tem acontecido desde que ela
chegou.”
Perguntada
se é um bruxa, a menina não responde. Um feiticeiro também não consegue decidir
e ela é levada para uma casinha onde passará a noite. E dizem:
“- Agora
depende de você escolher entre ser uma bruxa ou uma cabra.”
Bruxas são
propriedade do governo. E Shula vai ser usada por um agente do Ministério do
Turismo e Crenças em julgamentos públicos onde deve apontar o culpado. E recebe
oferendas que leva para o campo das bruxas.
Alguém num
programa de televisão pergunta:
“- E se ela
for só uma criança?”
Mas toda
aldeia precisa de bodes expiatórios para colocar a culpa de tudo de ruim que
acontece. O destino de Shula está selado.
O filme tem
cenas belíssimas e poéticas, ao som de música divina. E Shula quase não fala.
Seu olhar melancólico diz tudo.
O filme é
um conto surrealista e ao mesmo tempo uma denúncia. Pobres crianças usadas por
gente que não se importa com elas.
Pobre
África.
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