“Maria Callas – Em Suas Próprias Palavras”- “Maria by
Callas”, França, 2017
Direção: Tom Volf
Os aplausos no final da sessão são a reação espontânea da
plateia a esse documentário sobre Maria Callas, uma lenda da ópera do século
XX.
Dirigido pelo francês Tom Volf, ator e diretor, deixa a
própria Maria falar. As palavras que precedem o documentário ilustram o que
vamos ver nas imagens, tanto as tão conhecidas como outras que vamos descobrir
aqui:
“- Há duas pessoas dentro de mim...nunca fiz nada com
falsidade... descobrirão a mim inteira no que faço.”
A câmera de TV nos mostra Maria em preto e branco nessa
entrevista em inglês em 1958. Bela e majestosa fala de si mesma com reserva mas
sem timidez e conta como é difícil um artista ser feliz. Principalmente para
alguém como ela que se dedicou tanto à carreira.
A vida alternativa que ela não viveu a assombra como um
fantasma:
“- Teria preferido ter filhos e uma casa. Mas destino é
destino. Não se pode fugir. ”
Uma ambição de viver a vida no palco, a Callas, se alterna
com Maria, principalmente nas cartas que ela escreve aos amigos, lidas com
emoção por Fanny Ardant, atriz que a interpretou no cinema em “Callas Forever”
de 2002 dirigido por Franco Zeffirelli.
O “bel canto” jamais foi melhor encarnado do que nessa voz
divina e trabalhada com afinco na técnica, aliada a uma interpretação única das
heroínas das óperas que ela cantava. Ela foi tão grande soprano quanto foi
atriz nos palcos do mundo.
A americana, nascida em Nova York em 2 de dezembro de 1923,
segue para a Grécia com a família durante a Segunda Guerra. Lá ela, que tocava
piano desde os 8 anos, vai aprender com Elvira Hidalgo a usar sua voz:
“ - Com aquela boca, aqueles olhos que falavam, quando a vi
pensei: essa vai ser alguém. “
E as imagens mostram que sua figura mudou ao longo dos anos.
Sobrancelhas grossas afinaram, o nariz foi remodelado com maestria, a cintura
se estreitou e a voz cresceu, límpida e potente.
Todas as salas importantes a receberam com ovações.
Mas também vemos a chegada da “pior noite” de sua vida, em
1958, quando a “Norma” foi interrompida em Roma com o teatro lotado, inclusive
o Presidente da Itália:
“- Arrastaram meu nome na lama. Eu estava sem voz. No dia
seguinte meu linchamento começou. “
Mas são tantas as imagens inesquecíveis. Ela de negro e
camélias no cabelo na “Traviata”. Passeando no jardim à beira do lago na casa
que o marido Battista Meneghini comprou para ela. Nos inúmeros aeroportos,
sempre elegante, vestida com peles e levando seu cãozinho Toy. De veludo negro
e um broche deslumbrante cantando sedutora “L’amour est un oiseau rebelle” da
“Carmen”. De vermelho e diamantes e a “Casta Diva”. À beira da piscina,
consciente da câmera que a observava, não esconde um olhar triste.
E a mulher brilhante, queimada de sol e feliz com
Aristóteles Onassis, o grande amor de sua vida, no verão de 1964 na Grécia:
“- Eu o amei profundamente. Me sentia muito feminina com ele.
“
“La Divina” vai sofrer no fim de sua vida mas foi amada e
ainda o é por pessoas que só ouviram sua voz em discos, depois de sua morte em
Paris, aos 53 anos.
“- Tive a sorte de ter algo em mim que eu podia dar para o
público. “
E nos acordes finais de “O Mio Babbino Caro” deixamos o
cinema com lágrimas nos olhos.
Belíssimo!
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