Direção:
Steven Spielberg
Estamos no
futuro, 2045. A realidade da humanidade, se julgarmos por aquilo que vemos, é
pobre e suja. Estruturas metálicas enferrujadas servem para empilhar “trailers”
onde as pessoas moram.
“Drones”
entregam comida. E, dentro das moradias acanhadas, vemos quase todo mundo
usando óculos e mesmo roupas especiais, que criam uma realidade virtual.
Um garoto,
Wade Watts (Tye Sheridan) nos conta que nasceu em 2027, época dura, onde todos
lutavam pela sobrevivência. Seus pais morreram e ele foi morar com tia Alice. E
acrescenta:
“- A
realidade que vivemos é deprimente. Por isso todo mundo quer fugir para a
realidade virtual. ”
Ele também
nos conta que James Halliday (Mark Rylance) inventou um mundo virtual, o Oasis,
onde todos podem fazer o que quiser e, melhor, ser quem quiser ou seja, os
avatares. Mas tudo tem um preço e as moedas vem dos games, quando se ganha.
“- Ele era
como um deus “diz Wade.
Ficamos
também sabendo que, antes de morrer, Halliday, dono da Oasis, escondeu um
“Eastern Egg - Ovo da Páscoa” em seu mundo virtual. Para chegar a ele será
preciso encontrar três chaves, cada uma com um pergaminho que traz indicações
enigmáticas. Quem chegar primeiro ao Ovo herdará a enorme fortuna de Halliday e
o próprio Oasis.
O mau
caráter é Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn) de uma multinacional que quer ficar
dono da Oasis e persegue Wade e seus amigos Aech (Lena Waite) e Art3mis (Olivia
Cooke), uma garota corajosa que vai mexer com o coração de Wade.
Steven
Spielberg, 71 anos, baseou-se no livro de ficção científica de Ernest Cline de
2011 e recriou em imagens fantásticas o mundo virtual onde a humanidade prefere
viver. Fogem todos assim de seus problemas reais, divertindo-se com tudo
que o mundo surreal de Oásis fornece. Em especial, muita adrenalina.
A cultura
pop dos anos 80 é o material para a criação desse mundo fantástico dos games,
que tem alusões ao cinema de Stanley Kubrick (“O Iluminado”1980), Robert
Zemeckis (“Volta para o Futuro”, a trilogia de 1985, 1989 e 1990), “Saturday
Night Fever- Os Embalos de Sábado à Noite”, personagens como o King Kong,
Godzilla, Tiranossauro e Chucky e músicas de Van Hallen, George Michael e
Blondie. E muito mais, claro. Não dá para perceber tudo porque o clima do filme
é estonteante.
Há também
alusões a personagens de antigas lendas e mitos: o nome do avatar de Wade é
Parzifal, que com a mudança de uma letra é o nome do Cavaleiro da Távola
Redonda que encontrou o Santo Graal e Art3mis, avatar de Samantha, amiga de
Wade, soa como Ártemis, outro nome da deusa Diana, a caçadora.
Confesso que
nunca joguei um vídeo game. Não sou dessa geração. Nos anos 80 a gente se
divertia com a realidade que nós mesmos criávamos ou fugia também, mas através
de drogas.
Spielberg,
nesse filme barulhento, que deixa a mente zoando de tanta ação e cheio de
surpresas, tem o grande mérito de chamar a atenção da moçada ligada em games o
tempo todo, que viciam como uma droga, para o fato de que a vida acontece na
realidade real, único lugar onde se consegue fazer mudanças consistentes que
levam a progressos.
Incrível
mesmo é o talento e a imaginação desse grande cineasta que assinou “The Post”
no ano passado, um filme histórico importante que entrou na lista dos melhores
do ano e agora nos brinda com essa fantasia extraordinária.
Parece
normal para quem fez “Tubarão” em 1975 e “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”
em 1977, “Parque dos Dinossauros” e “Lista de Schindler”, ambos em 1993 e ainda
“Resgate do Soldado Ryan” em 1998, “Cavalo de Guerra” em 2011, “Lincoln” em
2012 e “Ponte dos Espiões” em 2015, para só citar alguns da premiada e admirada
filmografia dele.
Grande Steven Spielberg.
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