“Deixe a Luz
do Sol Entrar”- “Un Beau Soleil Intérieur”,França 2017
Direção:
Claire Denis
Isabelle
(Juliette Binoche, atriz extraordinária) procura o verdadeiro amor com
desespero. Já na primeira cena a vemos esplêndida em sua nudez na cama, onde
sempre vai parar com diversos parceiros. Só que nenhum serve.
Ela vive em
Paris, divorciada e com uma filha de 10 anos. Chora todas as noites, conta a
menina para o pai, que se preocupa. Ele até telefona para ela e quer conversar.
Mas acabam brigando nos lençóis macios dela. Como sempre, o príncipe vira sapo.
Ela chora e ele se enerva.
Mas qual é o
problema dela? Parece que Isabelle tem um radar para localizar homens
complicados como ela. Eles fogem ao primeiro sinal de que ela quer aprisionar
alguém na sua gaiola chamada Amor.
Ela é
pintora mas sentimos, pela única vez que a vemos começar um quadro, que isso
não a distrai de sua obsessão. Sempre que a campainha toca ou o celular chama,
pode ser ele, pensa ela, aquele que ela busca sem cessar.
Toda relação
que começa provoca nela um olhar de transe. É como se ela entrasse num estado
alterado. Naquele rosto masculino, ela vê a esperança de ser feliz. Não à toa,
a câmera de Agnes Godard filma quase sempre em “close”, para captar esse olhar
dela que vai sendo desmontado conforme a conversa se encaminhe para algo que
não ecoe o amor.
Nenhuma paciência.
Como uma adolescente mimada, ela quer alguém que adivinhe seus desejos,
alimente sua carência e fique com ela para sempre.
Mas será
mesmo? Porque a idealização do amor como algo mágico que leva a um ambiente de
sonho onde as necessidades e angústias da vida normal desaparecem, só leva à
frustração. É uma armadilha montada pela própria pessoa, inconscientemente, com
medo daquilo que pensa que é o que se quer. E não quer. Porque dá trabalho, é
uma construção a dois, exige desapego, renúncias e bom humor.
Isabelle
precisa amadurecer, melhorar sua autoestima, interessar-se por si mesma, como
recomenda um Gérard Depardieu (sempre extraordinário), surgido do nada.
Ele diz para
ela ficar aberta e que deve cultivar um bom sol interior. Clichês e insinuações
veladas. Com olhos de esperança, Isabelle ouve só o que quer ouvir. E aquele
homem que a aconselha já é visto como alguém especial.
Inspirado
vagamente no livro de Roland Barthes, “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, com
diálogos inteligentes da diretora e da escritora Christine Angot, o filme tem
como atração principal Juliette Binoche, 54 anos, linda e desejável, sexy e
melancólica. Ela é o filme.
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