“7 Dias em
Entebbe”- “Entebbe”, Estados Unidos, Reino Unido, 2018
Direção:
José Padilha
Quando um
fato histórico, acontecido no século XX, ocupa um espaço enorme nos meios de
comunicação da época, espera-se que se torne um bom filme. Foi o que aconteceu.
Um ano depois, três estavam prontos. “Resgate Fantástico” tinha Peter Finch
como Primeiro Ministro de Israel, “Vitória em Entebbe” era estrelado por Kirk
Douglas e Elizabeth Taylor e “Operação Thunderbolt” mostrava atores israelenses
e Klaus Kinski como um dos sequestradores.
Após 42 anos
do sequestro do avião da Air France que faria Tel Aviv-Paris em 4 de julho de
1976, José Padilha, 50 anos, diretor brasileiro em Hollywood, escolhe contar
novamente essa história famosa com um viés diferente.
Ele, que se
notabilizou por filmes de ação, principalmente “Tropa de Elite” de 2007, que
ganhou o Urso de Ouro em Berlim, começou sua carreira de sucesso com “Ônibus
174” de 2002, documentário sensível e premiado, que contava a história de um
jovem delinquente que sequestra um ônibus com passageiros no Rio de Janeiro. O
diretor mostra como o contexto social de pobreza e violência determinou o
destino trágico do sequestrador, bem como a ação escandalosa da TV e a
incompetência da polícia.
Parece que
ele usa esse mesmo olhar em seu filme para pensarmos sobre os bastidores
políticos e psicológicos desse sequestro do avião. Porque todo mundo sabe como
tudo termina. Não faria sentido fazer apenas mais um filme de ação. Talvez
memórias do seu documentário pressionaram para que Padilha olhasse os
acontecimentos com um olhar humanizado.
O grupo dos
quatro sequestradores era composto por dois guerrilheiros da Frente Popular
para a Libertação da Palestina e dois revolucionários alemães simpatizantes do
grupo Baader-Meinhof (Daniel Bruhl e Rosamund Pike, excelentes). Exigiam a
libertação de todos os presos políticos de Israel, ameaçando matar todos os
sequestrados.
O filme se
passa em três cenários: no avião sequestrado, no aeroporto de Entebbe, Uganda,
com a conivência do ditador Idi Amin e em Israel, onde o Primeiro Ministro
Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi) e o Ministro da Defesa Shimon Peres ( Eddie
Marsan) discutem estratégias.
Tanto entre
os alemães revolucionários mas burgueses e os palestinos que defendiam suas
ideias, dispostos a morrer por elas, quanto no cenário do governo israelense,
haviam disputas e dúvidas.
Essas
diferenças entre os membros do sequestro e as posições distintas dos líderes
israelenses são o diferencial do filme, adaptado do livro “Thunderbolt
Operation” de 2015, escrito pelo historiador britânico Saul David. Padilha
também teve uma consultoria do antigo membro da Força de Defesa Israelense,
Amin Ofer.
Desde as
primeira cenas, o diretor amarra a movimentação do sequestro com o ensaio de um
espetáculo do grupo Batsheva. Esse grupo de balé, o mais importante de Israel,
tem como diretor e coreógrafo Ohad Naharin, que culmina seu espetáculo
mostrando em imagens a tragédia que separa israelenses e palestinos. São
metáforas em movimentos corporais de grande intensidade emocional, acompanhadas
da canção da tradição judaica “Echad mi Yodea”. Um grande acerto.
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