“A Forma da
Água”- “The Shape of Water”, Estados Unidos, 2017
Direção:
Guillermo del Toro
Águas
verdes fazem dançar as algas em torno a uma casa submersa. Ouvimos em “off” a
voz de um narrador que quer nos contar a história de uma princesa muda. Na sala
da casa debaixo da água, uma moça sonha com algo agradável Seu rosto mostra
isso.
Será a
princesa que não fala? Ela flutua mas, aos poucos, vai descendo para o sofá. A
voz do narrador fala de um monstro que vai aparecer.
De repente
ela acorda. Já é hora de ir trabalhar. Mas antes, ela se deixa levar para um
mar de delícias, na água de sua banheira. É o seu elemento e o seu prazer. Sem
isso não daria para começar o dia.
Mas o que
são aquelas estranhas marcas em seu pescoço? Sobre isso paira um segredo só
dela. Sabemos que foi abandonada ainda bebê e vivera num orfanato desde então.
O vizinho
(Richard Jenkins) desempregado e prestativo é seu único amigo. Ele também tem
seus segredos. Por que insiste em adorar aquelas tortas enjoativas que ele vai
saborear olhando com um brilho nos olhos para o rapaz que fica atrás do balcão?
Bem, Elisa
(Sally Hawkins, esplêndida) não é de condenar ninguém. Não se incomoda com as
manias do vizinho. E convidada a provar a iguaria, discretamente cospe a
gororoba no guardanapo.
No trabalho
dela, uma base do exército americano, faz par com Zelda (Octavia Spencer) que a
protege sempre que pode.
Olhando
bem, aquela mocinha aérea não parece que pertence a esse mundo.
Como ela é
só muda, escuta bem as pessoas mas não é compreendida pela maioria. Sua
personalidade doce é confundida com ingenuidade. Mas não se enganem. Ela sabe
ser combativa e lutar pelos seus desejos.
E tudo vai
mudar para melhor, e também para mais perigoso, quando o sádico agente (Michael
Shannon) traz um tanque para o laboratório de pesquisas.
Aprisionaram
um ser que vivia nas aguas amazônicas. Lá ele era venerado como um deus. E o
que querem dele?
Tudo é
segredo. Porque os russos estão à espreita para roubar as descobertas dos
americanos. É a Guerra Fria e todo cuidado é pouco. Qualquer um pode ser o
inimigo, acreditam os militares e aquele agente mau concorda.
Elisa vai
viver dias de céu e inferno, perdidamente apaixonada por seu príncipe
submarino, que ela descobriu no tanque ultra secreto.
Só ela pode
salvá-lo de um destino cruel.
É nesse tom
de contos de fada que o diretor e roteirista mexicano Guillermo del Toro nos
envolve em “A Forma da Água”. Ele sabe criar uma atmosfera ambígua, ao mesmo
tempo infantil e adulta, cheia de alusões aos males do nosso tempo, como o
racismo, o preconceito, o julgamento apressado, a paranoia e a maldade pura e
simples.
A produção
de arte se esmera nos detalhes que acompanham a trama. Os cenários, os
figurinos dos personagens, a trilha sonora inesquecível de Alexandre Desplat,
tudo nos carrega ao mundo dos anos 50, com um charme todo especial. Há até uma
homenagem ao cinema do pós guerra, preto e branco, cheio de danças e músicas.
E quando
ouvimos a divina Renée Flemming cantando “You’ll never know”, já estamos todos
fisgados na torcida por Elisa e seu príncipe submarino (Doug Jones).
É tão bom
quando tudo que se passa na tela nos envolve e não vemos o tempo passar.
Sonhamos o sonho dos personagens e não queremos acordar.
“A Forma da
Água” consegue tudo isso em duas horas de uma história de amor bem contada.
O filme é
candidato certo a vários prêmios. Começou a coleção com o Leão de Ouro em
Veneza.
Vocês vão
gostar.
O fantástico romance que Guillermo del Toro nos oferece é sublime. A história é muito bonita e o contraste entre os personagens foi excelente. Michael Shannon nos dá um vilão memorável. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Seu trabalho em Fahrenheit 451 é excelente. Não há dúvida de que muitas pessoas vão se lembrar dela como um Michael Shannon filmes. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto. Eu gostei muito porque ele conseguiu dar sua personalidade ao personagem a quem ele deu sua voz. Cada um dos projetos deste actor supera a minha expectativa. Eu sem dúvida verei novamente.
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