“O
Sacrifício do Cervo Sagrado”- “The Killing of a Sacred Deer”, Reino Unido,
Irlanda, 2017
Direção:
Yorgos Lanthimos
Um coração
pulsando no peito aberto de um homem. A fragilidade desse órgão nas mãos de um
outro homem causa apreensão. E nos prepara para o que vamos ver na tela.
A história
é sobre um cirurgião cardiologista ( Colin Farrell) e sua família. Nicole
Kidman é a oftalmologista, mulher do cirurgião famoso, com quem tem dois
filhos, Bob o caçula e Kim, a mais velha.
Estranhamos
os encontros iniciais do médico com um adolescente (Barry Keogan). Haveria algo
sexual entre eles? Aos poucos vai ficando mais clara a relação entre os dois.
Há um clima de chantagem e sedução.
“Não sei se
este é um filme sobre sacrifício, embora alguém seja imolado. Prefiro pensar
que é uma reflexão sobre a justiça e sobre escolhas”, disse o diretor grego
de 44 anos, no Festival de Cannes do ano passado.
E a justiça
aqui é aquela dos deuses antigos. Imediatamente pensamos em uma história de
vingança.
Quem
conhece um pouco das tragédias gregas vai se lembrar da personagem de Ifigênia.
Mesmo porque o nome é citado, já que a filha do cirurgião escreveu um trabalho
da escola elogiado sobre essa personagem de Eurípedes. Ifigênia escapa de ser
morta em sacrifício pelo pai Agamenon, que ofendera a deusa Artemisa, porque é
substituída por um cervo.
Quem será o
cervo na história do cirurgião?
Lanthimos
vai desenvolvendo o clima trágico, criando suspense, E vai nos envolvendo no
horror proposto por uma justiça do “olho por olho”.
O médico
vai ter que expiar sua culpa na morte de um paciente durante uma cirurgia. Ele
se submete aos desejos do adolescente, filho do morto, levado pela culpa. Sabe
que o paciente teria uma chance se ele não tivesse bebido.
A maldição
que o filho do morto lança sobre a família do médico, começa a surtir efeito.
Uma estranha paralisia joga os dois filhos dele numa cama.
Lanthimos
usa esses personagens, aparentemente banais, para expor as reações deles quando
colocados numa cilada que os obriga a uma escolha impensável. A natureza humana
sob a influência das forças inconscientes, maiores do que pode suportar, vai
atuar em obediência a esses deuses, as fúrias internas que castigam sem
piedade.
“O
Sacrifício do Cervo Sagrado” é um filme para poucos mas fica conosco quando
saímos do cinema porque leva a reflexões pouco convencionais.
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