“The Square
– A Arte da Discordia”- “The Square”, Suécia, Alemanha, França
Direção:
Ruben Ostlund
O
curador-chefe do “X-Royal”, museu de arte contemporânea de Estocolmo é um rapaz
alto, bonito, bem vestido e elegante, mesmo quando dorme de terno no sofá de
seu escritório.
Óculos
vermelhos, meias laranja, um corte de cabelo “cool”, Christian (Claes Bang)
conta na primeira entrevista do dia, a uma americana (Elizabeth Moss), que o
problema de um museu como o que ele dirige é dinheiro:
“- Existem
compradores no mundo inteiro que gastam em uma tarde nosso orçamento para o ano
inteiro!”
Além disso
há a pergunta que paira no ar e não quer calar. Se um objeto é colocado no
museu, isso o torna arte imediatamente?
“-
Discutimos isso em algumas noites em maio passado e está no nosso site.”
Ele está
envolvido na nova exposição do museu que vai mostrar um trabalho de uma artista
argentina e será colocado no chão da praça em frente ao museu. É o “Square”. Um
quadrado delimitado por um fio de luz, que tem uma placa onde se lê que aquela
é uma zona de confiança. Lá todos tem os mesmos direitos e responsabilidades.
Tudo isso
visto, vamos assistir ao curador-chefe se atrapalhar com várias situações que
envolvem problemas de ética, assunto que o diretor Oslund gosta de esmiuçar.
Lembram-se de “Força Maior”,seu filme anterior, onde uma mulher perde a
confiança no marido por uma atitude que ela estranha?
Assim, na
própria praça, caminhando em direção ao museu, o curador vai viver uma
“performance” não ensaiada com ele e acaba tendo seu celular, carteira e
abotoaduras roubadas.
Muito
bravo, ele segue as orientações de um rapaz, que cuida da tecnologia de
computadores no museu, que consegue localizar seu celular.
A ideia é
mandar cartas acusatórias a cada morador do prédio, local onde está o celular.
O curador compra tal ideia mas ela vai mostrar-se um enorme risco, que vai
expor a hipocrisia, o egoísmo e a falta de ética de Christian. Principalmente
porque ele ofende pessoas que não tem nada a ver com o roubo do celular. E o
prédio é habitado por pessoas pobres.
Começando
com um erro, as situações que se sucedem trazem ainda mais desconforto ao
curador. Tem que enfrentar um menino ofendido, suas filhas, que passam o fim de
semana com ele, sendo envolvidas no ambiente tenso, culminando num vídeo que
viraliza na internet, escandalosamente nada ético, publicidade para o “Square”,
que ele deixou passar de tão envolvido que estava com sua vida privada.
A cena mais
marcante é a da performance de Terry Notary, num jantar dos ricos patronos do
museu, como o homem/primata que vai num crescendo do humor banal ao mais puro
terror.
O filme
ganhou a Palma de Ouro em Cannes e está na lista dos indicados ao Oscar de
melhor filme estrangeiro.
Provocador,
o mérito de “The Square” é chamar a atenção para a cultura da arte
contemporânea, que muitas vezes esbarra no ridículo. E na postura de uma elite
que passa pelos mendigos imigrantes dormindo nas ruas de Estocolmo com
indiferença.
Aliás isso
vale para todo mundo e não só para a Suécia. A compaixão é mercadoria rara no
mundo de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário