“Trama
Fantasma”- “Phantom Thread”, Estados Unidos, 2017
Direção:
Paul Thomas Anderson
Ele veste
com requinte as mulheres ricas da aristocracia inglesa e europeia nos anos 50.
Aquela casa elegante e imaculada, em Londres, é um templo que ele preside como
o grande sacerdote, o único homem naquele território.
Suas
clientes olham Reynolds Woodcok (Daniel Day-Lewis) com adoração e se submetem
ao seu bom gosto e cuidados. Ele é gentil, adulador mas distante. Há sempre um
certo temor na sua presença, invisível sustentação do seu narcisismo.
A irmã,
Cyril (Lesley Manville), está ali para que nada falte, nem destoe. Horários,
refeições e trabalho. Tudo isso comandado por regras pétreas, que Cyril faz
respeitar. Ele a chama com algum afeto e humor de: ”minha velha coisa e tal”.
Séria, olhar penetrante, vestida com discrição e cabelos num coque modesto, ela
vela pelo irmão.
Todo dia,
depois que as costureiras chegam, ainda na madrugada e tiram seus casacos para
vestir os aventais brancos e imaculados, ele entra em cena depois de uma
toalete meticulosa.
O café da
manhã é um ritual sagrado. Silêncio, introspecção, recolhimento. Ele mesmo
serve seu chá enquanto desenha croquis. Cyril e a modelo do momento são meras
espectadoras.
Solteiro
convicto, Reynolds de tempos em tempos muda de musa. Afinal, cansa-se delas,
não há novidade, nem mesmo vontade de corrigir os defeitos. Ele não nasceu para
ser um Pigmalião. Elas são meros corpos necessários para a criação dos
vestidos. É Cyril que as dispensa, com eficiência. Afinal Reynolds tem que ser
poupado de esforços inúteis. E mulheres não faltam para fazer esse papel.
Até que um
dia, num restaurante perto de sua casa de campo, ele nota aquela garçonete
alta, pele muito branca, um pouco desajeitada mas com um sorriso difícil de
qualificar.
Ele faz o
pedido, sempre sorrindo para ela, sedutor. É uma lista enorme. Ele está
faminto? Ela não comenta nada e só responde quando ele pergunta.
Alma (Vicky
Krieps) é convidada para jantar naquela noite.
Na mesa, ele
pergunta se é parecida com sua mãe, quer ver o retrato dela e aconselha:
“- Você deve
ter ela sempre com você. Eu tenho costurado no interior do meu casaco um cacho
do cabelo da minha. Foi ela que me ensinou meu ofício. Devo tudo a ela.”
Depois,
mostra para Alma o retrato da mãe vestida de noiva para o segundo casamento:
“- Fui eu
que fiz. Minha irmã me ajudou. Vestidos de noiva são complicados porque há
muitas superstições. Quem costura não casa...”
“- E sua
irmã? Casou? ” pergunta Alma.
“- Não. Ela
vive comigo.”
Intuitivamente,
Alma, que não quer ser mais uma que será descartada como inútil, vai
descobrindo as amarras de Reynolds. Ele mesmo deu a ela, em suas primeiras
conversas, a chave das algemas maternas. E, no avesso da barra de um vestido de
noiva, ela descobre costurada a senha que faltava.
Mulher
forte, Alma vai desconstruir a rigidez daquele homem por quem se apaixonou.
Como uma feiticeira, ela saberá o que procurar na floresta para obter
resultados.
Paul Thomas
Anderson, 47 anos, tem dois Oscars de melhor roteiro original por “Boogie
Nights”1997 e “Magnolia”1999.
É um diretor
com filmes premiados em Cannes, Berlim e Veneza. Sempre preocupado com a
estética e as atuações do elenco, em “Trama Fantasma” faz uma bela parceria com
o excelente Daniel Day-Lewis, seis vezes indicado ao Oscar de melhor ator
(levou três), tem 60 anos e diz que esse será seu último filme. Pena. Ele está
esplêndido. E Vicky Krieps é uma estrela descoberta em Luxemburgo.
O filme tem
6 indicações ao Oscar: filme, diretor, ator, atriz coadjuvante (Lesley
Manville), trilha sonora (Jonny Greenwood) e figurinos (longos clássicos com
detalhes marcantes em cores e tecidos gloriosos).
“Trama
Fantasma” é como um vestido de alta costura, feito à mão, com tecido, corte e
pontos impecáveis para deslumbrar na passarela. Uma obra de arte.
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