domingo, 25 de fevereiro de 2018

Eu, Tonya




“Eu, Tonya”- “I, Tonya”, Estados Unidos, 2017
Direção: Craig Gillespie

A carência afetiva atua de maneira trágica nas escolhas de vida dos seres humanos. Cria uma espécie de daltonismo afetivo e eles confundem o vermelho com o verde. Envolvem-se com pessoas espertas que tem faro para essa fragilidade que leva a comportamentos masoquistas de submissão. Quando isso acontece, formam-se pares difíceis de separar, o que só vai acontecer depois de muito sofrimento.
Aquela menina que acaba de fazer 4 anos (McKenzie Grace, um prodígio de graça), vestida como uma boneca, é trazida pela mão da mãe tirânica, ambiciosa, dominadora e cruel, para ser treinada num dos esportes que mais valoriza a elegância e a delicadeza. Na patinação artística o que é julgado não é somente a capacidade acrobática mas a maneira como a apresentação acontece. Ali vencem os valores estéticos que fazem a performance parecer natural e fácil mas também os modos da patinadora, seu traje e a música escolhida. Julga-se o quanto ela é bela e etérea.
E é uma pena porque aquela menina vai crescer e trazer o ambiente onde foi criada para a cena da patinação. Suas roupas, costuradas pela mãe, e depois por ela mesma, são de mau gosto, com brilhos mal colocados, cores berrantes e os detalhes nada elegantes. Seu cabelo é rebelde e os gestos arrogantes. Ela é caipira e submissa. A tal ponto que seu comportamento na pista é estimulado por surras de escova no banheiro que a mãe considera eficaz para uma boa performance.
Essa história é real. Tonya Harding foi a primeira mulher americana que ousou fazer um “triple axel” ou seja, saltar e girar três vezes no ar e cair com leveza, como se tudo aquilo fosse natural. Era amada pelo público e seu objetivo era ganhar uma medalha de ouro nas Olimpíadas de Inverno em 1994.
Mas seu sonho tornou-se um pesadelo.
Quase todo mundo ouviu falar do “incidente” ocorrido com Nancy Kerrigan, rival de Tonya nas pistas de patinação que excluiu Tonya para sempre daquilo que ela mais amava fazer. Era a sua vida.
O filme “Eu, Tonya”, é dirigido por Craig Gillespie como se fosse um documentário, com depoimentos de pessoas como a mãe dela (Allison Janney, espetacular como a bruxa da vida de Tonya), o marido Jeff (Sebastian Stan) que se aproveitava dela e era tão cruel quanto foi a mãe, fazendo Tonya sentir-se culpada e merecedora de surras o tempo todo, o patético guarda-costas megalomaníaco (Paul Walser Hauser) e ela mesma, Tonya, interpretada com paixão pela atriz australiana Margot Robbie.
O filme foi indicado para 3 Oscars: melhor atriz para Margot Robbie, melhor atriz coadjuvante para Allison Janney e melhor edição.

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