“Verão 1993”- “Estiu 1993”,
Espanha, 2017
Direção: Carla Simón
Uma menina olha o céu.
Escutamos barulhos de fogo de artifício e gritaria de crianças. Mas Frida está
mais distante que as estrelas e flores de luzes coloridas brilhantes que
iluminam o céu e logo se apagam. No que pensa ela?
Frida (Laia Artigas) é
pequena, tem 6 anos e seu rosto mostra uma indiferença a tudo que acontece a
seu redor, como se não fosse com ela, como se ela não estivesse ali. E, no
entanto, é a casa dela, onde morava com a mãe, que está sendo desmontada. Uma
mudança a espera. De Barcelona, onde vivera até então, para o interior da
Catalunha. Vai morar com os tios, Esteve, irmão de sua mãe (David Verdaguer) e
Marga (Bruna Cusí) e com a sua priminha de 3 anos, Anna (Paula Robles).
Quando a avó dá a ela o
santinho da Primeira Comunhão de sua mãe e ensina o Pai Nosso, pedindo que ela
reze pela mãe, entendemos porque Frida está distante. É órfã. Perdeu seu pai e
depois sua mãe.
Além da falta de expressão do
rosto, Frida também não fala.
Quando chegam ao novo
destino, ela, sempre com uma boneca no colo, não quer comer. Balança a cabeça
tanto para o “não” quanto para o “sim”. Só quer água.
Acorda no dia seguinte com
muito sol entrando pela janela, pios de pássaros e zumbido de insetos. A
priminha canta enquanto sobe numa árvore e chama Frida para ver.
Na mesa do café da manhã, ela
não quer o leite. A tia insiste e o tio, escondido, toma o leite dela. Um
brilho aparece no olhar de Frida, no rosto um pequeno sorriso.
Foi esse o primeiro sinal de
aceitação da nova realidade em sua vida.
A câmara acompanha Frida o
tempo todo e, com isso, nos sentimos próximos da menina, aflitos com o que ela
está passando.
Até das galinhas ela tem
medo. Passa longe. Temos também medo por ela. Está muito frágil.
No açougue ouvimos a dona
comentar com a tia Marga:
“- É a sobrinha de Esteve?
Pobrezinha...Foi pneumonia? ”
Frida vai saber do acontecido
com sua mãe em conversas de adultos que pensam que ela está longe ou que não
entende o que falam.
Mas é nas brincadeiras com
Anna que ela começa a lidar com tudo que está fechado dentro dela.
A imagem vestida de negro de
Nossa Senhora, com o filho morto na cruz, que Frida encontrou no jardim, recebe
presentes e preces. À noite, com uma lanterna, ela procura a mãe nas árvores e
chama por ela. Em vão.
Nosso coração se aperta
porque percebemos como está sendo difícil para Frida aceitar a morte da mãe.
Ela nem mesmo sabe do que ela morreu, já que AIDS naquele tempo era tabu. E a
priminha, com pai e mãe, é vista com um misto de ciúmes e raiva intensa.
Aceitar os tios como pais
adotivos foi ainda mais difícil porque Frida os vê como inimigos:
“- Aqui ninguém gosta de
mim”, diz para Anna.
Há sentimentos contraditórios
que a fazem sentir-se confusa.
Carla Simón, 31 anos,
diretora e roteirista, conta que se inspirou na própria vida dela para fazer o
filme. E o talento da pequena atriz Laia Artigas, extraordinária, respondeu com
extrema sintonia à direção de Carla Simón. Assim como todo o elenco.
No Festival de Berlim desse
ano o filme ganhou o prêmio de Melhor filme de Cineasta Estreante e o Grande
Prêmio do Júri da Mostra Generation Kplus. Foi também o escolhido para
representar a Espanha no Oscar 2018.
“Verão 1993” é um filme
delicado e comovente, que deixa ver que a dor de uma tragédia, aos poucos, pode
ser vivida e compreendida.
Lágrimas no final são
difíceis de reter.
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