domingo, 10 de dezembro de 2017

Verão 1993


“Verão 1993”- “Estiu 1993”, Espanha, 2017
Direção: Carla Simón

Uma menina olha o céu. Escutamos barulhos de fogo de artifício e gritaria de crianças. Mas Frida está mais distante que as estrelas e flores de luzes coloridas brilhantes que iluminam o céu e logo se apagam. No que pensa ela?
Frida (Laia Artigas) é pequena, tem 6 anos e seu rosto mostra uma indiferença a tudo que acontece a seu redor, como se não fosse com ela, como se ela não estivesse ali. E, no entanto, é a casa dela, onde morava com a mãe, que está sendo desmontada. Uma mudança a espera. De Barcelona, onde vivera até então, para o interior da Catalunha. Vai morar com os tios, Esteve, irmão de sua mãe (David Verdaguer) e Marga (Bruna Cusí) e com a sua priminha de 3 anos, Anna (Paula Robles).
Quando a avó dá a ela o santinho da Primeira Comunhão de sua mãe e ensina o Pai Nosso, pedindo que ela reze pela mãe, entendemos porque Frida está distante. É órfã. Perdeu seu pai e depois sua mãe.
Além da falta de expressão do rosto, Frida também não fala.
Quando chegam ao novo destino, ela, sempre com uma boneca no colo, não quer comer. Balança a cabeça tanto para o “não” quanto para o “sim”. Só quer água.
Acorda no dia seguinte com muito sol entrando pela janela, pios de pássaros e zumbido de insetos. A priminha canta enquanto sobe numa árvore e chama Frida para ver.
Na mesa do café da manhã, ela não quer o leite. A tia insiste e o tio, escondido, toma o leite dela. Um brilho aparece no olhar de Frida, no rosto um pequeno sorriso.
Foi esse o primeiro sinal de aceitação da nova realidade em sua vida.
A câmara acompanha Frida o tempo todo e, com isso, nos sentimos próximos da menina, aflitos com o que ela está passando.
Até das galinhas ela tem medo. Passa longe. Temos também medo por ela. Está muito frágil.
No açougue ouvimos a dona comentar com a tia Marga:
“- É a sobrinha de Esteve? Pobrezinha...Foi pneumonia? ”
Frida vai saber do acontecido com sua mãe em conversas de adultos que pensam que ela está longe ou que não entende o que falam.
Mas é nas brincadeiras com Anna que ela começa a lidar com tudo que está fechado dentro dela.
A imagem vestida de negro de Nossa Senhora, com o filho morto na cruz, que Frida encontrou no jardim, recebe presentes e preces. À noite, com uma lanterna, ela procura a mãe nas árvores e chama por ela. Em vão.
Nosso coração se aperta porque percebemos como está sendo difícil para Frida aceitar a morte da mãe. Ela nem mesmo sabe do que ela morreu, já que AIDS naquele tempo era tabu. E a priminha, com pai e mãe, é vista com um misto de ciúmes e raiva intensa.
Aceitar os tios como pais adotivos foi ainda mais difícil porque Frida os vê como inimigos:
“- Aqui ninguém gosta de mim”, diz para Anna.
Há sentimentos contraditórios que a fazem sentir-se confusa.
Carla Simón, 31 anos, diretora e roteirista, conta que se inspirou na própria vida dela para fazer o filme. E o talento da pequena atriz Laia Artigas, extraordinária, respondeu com extrema sintonia à direção de Carla Simón. Assim como todo o elenco.
No Festival de Berlim desse ano o filme ganhou o prêmio de Melhor filme de Cineasta Estreante e o Grande Prêmio do Júri da Mostra Generation Kplus. Foi também o escolhido para representar a Espanha no Oscar 2018.
“Verão 1993” é um filme delicado e comovente, que deixa ver que a dor de uma tragédia, aos poucos, pode ser vivida e compreendida.


Lágrimas no final são difíceis de reter.

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