“Extraordinário”- “Wonder”,
Estados Unidos, 2017
Direção: Stephen Chbosky
Andamos tão cabisbaixos nos
tempos em que vivemos, de notícias ruins, guerras, violência, fanatismos, que o
nosso coração periga endurecer. Desacreditar da humanidade é o caminho perigoso
que somos tentados a trilhar.
Mas filmes como esse
“Extraordinário” vão na direção oposta e, por isso, fazem bem. Adultos e
crianças precisam revigorar sua capacidade de identificar-se com a bondade.
Quando “a gentileza é preferível a estar certo”, como ensina a escola do menino
Auggie, nem tudo está perdido.
Quando ele aparece, vestido
de astronauta, usando capacete, pulando na cama, num quarto pintado como um céu
com estrelas, ele mesmo conta sua história:
“Não sou normal...meu
nascimento foi hilário!”
Rindo de si mesmo, um menino
de 10 anos.
Ele tem uma deformidade no
rosto, a síndrome de Treacher Collins, que é genética. Depois de 27 cirurgias,
ele ainda usa um capacete em público.
Educado em casa pela mãe, ele
é mimado e é o centro de atenção da casa. Claro que isso afeta a irmã mais
velha, a compreensiva Via (Izabela Vidovic), deixada de lado. Ainda bem que ela
teve a avó (ótima Sonia Braga) que percebia a carência da neta e a amava muito.
Lembrada numa cena em Coney Island, bem curtinha, é um dos pontos altos do
filme.
Mas, como todo mundo tem
problemas, como diz Via, talvez Auggie consiga enfrentar a escola e possa
conviver com as outras crianças. Essa é a torcida da mãe (Julia Roberts) e o
receio do pai (Owen Wilson):
“- É como mandar um cordeiro
para o abate...”
Auggie mesmo diz:
“- Como nunca fui para a
escola, estou apavorado...”
Mas ele tem o diretor da
escola, Mr Tushman (Mandy Patinkin) e Mr Browne (Daveed Diggs), o professor da
5ª série, os dois de olho no que pode acontecer.
E Auggie é esperto,
inteligente, simpático e bem humorado.
Adaptado do livro de Raquel
Jaramillo, que usa o pseudônimo de R. J. Palacio, “Extraordinário”, defende a
ideia de que antes de julgar, devemos conhecer. E quando Auggie se afasta dos
outros, respeitando a estranheza que causa, por exemplo, ao comer, dadas suas
dificuldades motoras, incentiva o bom garoto Jack Wills (Noah Jupe) a se
aproximar e a descobrir um amigo.
O diretor Stephen Chbosky tem
no currículo o livro “As Vantagens de ser Invisível”, que ele mesmo adaptou
para o cinema e rendeu um filme de sucesso. Aqui, ele acertou na escolha do
elenco e no ritmo do filme. Não são só dificuldades e lágrimas. Há risos e
prêmios.
E tem o principal. O ator
canadense Jacob Tremblay já encantara o público no filme “O Quarto de Jack” de
2015, fazendo o garoto de 5 anos que nasceu no cativeiro da mãe e não conhecia
o mundo. Em “Extraordinário” ele é o coração do filme.
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