terça-feira, 30 de maio de 2017

Punhos de Sangue - A Verdadeira História de Rocky Balboa


“Punhos de Sangue - A Verdadeira História de Rocky Balboa”- “Chuk”, Estados Unidos, 2016
Direção: Philippe Falardeau

Surpreendente. É o mínimo que se pode dizer sobre esse filme.
Porque com esse título em português, esperaríamos ver um drama com a subida e queda trágica de um pugilista. Como acontece em “Réquiem para um Lutador” de 1962, com Anthony Quinn (1915-2001) sendo derrotado por um jovem Cassius Clay. Aliás, esse era o filme preferido de Chuck Wepner (Liev Schreiber), o protagonista de “Punhos de Sangue”, que sabia de cor todas as falas.
Mas não. Aqui, cenas de ringue só há poucas. Não é o box o grande tema. O roteiro destrincha o que a fama pode fazer com quem não está preparado para ela, mas também mostra como o momento de glória pode ser lembrado como algo memorável e que valeu a pena viver apesar dos pesares.
O narrador da história real é o próprio protagonista que relembra em “off” , para a plateia, seus bons e maus momentos, criando sintonia e simpatia, com seus comentários irônicos e bem humorados.
Ele era um pugilista que sangrava muito nas lutas. Daí o apelido de “Bleeder”, hemofílico. E nunca foi um grande boxeador.
Aconteceu que ele era o único branco no ranking e Muhammad Ali, em 1975, campeão dos peso-pesados, depois da luta com Foreman, queria nocautear um branco frente à plateia que tinha vindo só para vê-lo. Sobrou para Chuck.
Foi uma luta duríssima, ao contrário do que todos pensavam. Wepner chegou a fazer Ali cair no ringue e no 12º round, estava com o nariz quebrado, cortes sangrentos no rosto amassado mas durão, de pé até o fim. Ali ganhou por nocaute técnico só quando faltavam 20 segundos para acabar o último round.
Chuck Wepner virou um herói depois disso. Era reconhecido, pediam autógrafos. Beber, ele sempre havia bebido. Mulherengo também sempre tinha sido. Mas a luta trouxe algo inesperado e vivido intensamente como uma glória. Silvester Stallone (Morgan Specton), que tinha visto a luta, inspirou-se nele para escrever o roteiro de “Rocky” (1976), que ganhou três Oscars em 1977: melhor filme, diretor e edição. Chuck Wepner era agora também “The Real Rocky”.
Tudo isso subiu à cabeça de Chuck que exagerou em tudo depois da fama: bebida, mulheres e descobriu a cocaína.
Ficou conhecendo Stallone mas isso não levou a nada. O melhor foi encontrar “um anjo que caiu do céu”, como ele, um romântico, chamou a “barwoman” Linda (a bela Naomi Watts, casada com Liev Schreber na vida real e coprodutora do filme) por quem se apaixonou.
O ator Liev Schreber está ótimo no papel do grandalhão de bigodinho ridículo, uma pessoa carismática apesar de só se interessar de fato por si mesmo. A mulher (Elizabeth Moss), a filha, o irmão, são meros coadjuvantes com quem Chuck não pode perder muito tempo. Ele é um “bon vivant”, atrapalhado e sonhador.
O diretor canadense Philippe Falardeau faz um bom filme, dirigindo bem o elenco, com excelente reprodução de época, ajudado por uma trilha sonora com sucessos dos anos 70.
“Punhos de Sangue” é uma boa surpresa para o grande público ver e, inesperadamente, se enternecer.


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