Direção: Stuart Hazeldine
Se você quer ver o filme “A
Cabana” e não gosta de saber sobre o filme antes de assistir, não leia essa
resenha porque ela vai ter “spoilers”, ou seja, desmancha-prazeres. Mas quando
tiver visto, volte aqui.
O livro do canadense William
P. Young que inspirou esse filme foi um sucesso mundial. Vendeu mais de 22
milhões de exemplares, sendo 4 milhões deles só no Brasil.
Vi o filme, interessada em
saber por que as pessoas se emocionam tanto com ele, apesar da crítica ter
detestado.
A história envolve um
personagem que teve uma infância difícil. O menino, filho de um alcoólatra
violento, vê a mãe ser agredida e sente-se impotente e culpado por não poder
ajudá-la.
Quando expõe para a
comunidade da igreja que a família frequenta o que vê em casa, leva uma surra
e, de novo, sente-se culpado por ter envergonhado o pai.
Mas, como toda criança
tratada de maneira violenta, fica com muita raiva e vemos uma cena em que ele
põe veneno na bebida do pai. Não sabemos se foi uma fantasia ou realidade.
Todo mundo fantasia, todo
mundo sonha.
Mack, o menino do pai agressivo
cresce com a culpa de ter matado, se não na vida real, mas em seu íntimo,
aquele que deveria amar e respeitar.
Cresce, cria a própria
família, mas sente-se em dívida. Quer ser punido.
Quando acontece o pior e sua
filha pequena desaparece, eis o castigo que ele vai receber num misto de grande
culpa, depressão e um certo alívio. Chegou afinal o que ele esperava que
viesse. Mas que não o redime. Só o castiga, jogando-o numa depressão sombria e
empurrando para uma solução fatal. Assim, não vê o caminhão vindo em sua
direção na estrada e vai parar no hospital. Dias desacordado.
Perdido em seu duplo luto
pelo pai e pela filha, Mack (Sam Worthington) vai sonhar que vê Deus, o Todo
Poderoso que ele tacha de cruel.
Só que aquele que é o culpado
de ter abandonado Mack e deixado sua filha morrer, é também aquela vizinha que
o consolava na infância, com sua torta de maçã e palavras carinhosas.
Octavia Spencer, já
oscarizada, faz com desenvoltura o papel de “Papa” (que é como a mulher de Mack
chamava Deus) e ensina boas lições para Mack, que precisava pensar para poder
sair da depressão e do luto.
E as lições que ele aprende
envolvem primeiro ter que entender que ele pode se recriar, com Sarayou ( a
japonesa Sumire Matsubara), depois, desenvolver confiança no outro, com o filho
de ”Papa”, interpretado com simpatia pelo israelense Avraham Aviv Alush. A
corrida deles sobre as águas do lago é um momento inusitado de companheirismo e
alegria.
Depois disso, Mack será
levado pela personificação masculina de “Papa” frente à Sabedoria (Alice
Braga), para entender o senso de justiça e, finalmente, terá que se haver com a
capacidade de perdoar.
Já sabemos que quem não
perdoa, não será perdoado. Uma lei muito simples. O que condenamos nos outros,
condenamos também em nós mesmos.
E eis que Mack é levado a
refletir, e também a plateia, que somos os responsáveis por nossas escolhas.
Não existe um Todo Poderoso cruel mas a maldade. E, se escolhermos a maldade,
vamos arcar com as consequências.
Existe também aquilo que não
podemos evitar. Nem Deus.
E isso não é desculpa para
nos entregarmos à amargura. Qualquer vida aqui na Terra vai ter sofrimento,
muito ou pouco. É a lei da vida. Que tem também prazeres para serem apreciados.
“A Cabana” nos reconcilia com
a ideia da bondade, da força do amor, da possibilidade de procurarmos ser
pessoas melhores.
Não é um grande filme mas é
muito bom nas lições que ensina ou nos faz relembrar.
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