“Pequeno Segredo”- Brasil, Nova Zelândia 2016
Direção: David
Schurmann
É difícil falar sobre um filme que
foi tão discutido e que tanto dividiu opiniões. Eu vi o trailer antes da
indicação para representar o Brasil no Oscar 2017 e a primeira impressão foi a
que ficou.
“Pequeno Segredo” tem lindas imagens
do mar, do rio Amazonas e belos pores do sol (fotografia do peruano Inti
Brionis). Noites estreladas e o encanto de uma menina loura, dançando como
a borboleta que voa sobre o mar na
primeira cena.
O clima é de um conto de fadas. A
relação mãe e filha (Julia Lemmertz e Mariana Goulart) coloca as duas em estado
de graça. As vozes são suaves e os rostos expressivos das atrizes inspiram amor
e devoção. Só existem elas no mundo.
E isso, de tal maneira, que o resto
dos personagens são secundários. O pai (Marcello Antony) é figura apagada. Os
pais verdadeiros de Kat, a talentosa Maria Flor e o opaco Errol Shand, filho da
bruxa neozelandesa, a avó Barbara (Fionnulla Flanagan, a única que consegue se sobressair), mais os
irmãos adotivos, são pessoas que entram e saem, sem qualquer composição mais
aprofundada.
E o que é o foco central da história,
a vida e a morte precoce da irmã adotiva, contada pelo diretor David Schurmann,
42 anos, está impregnado de idealização.
Aos menos ingênuos ressalta a vontade
de emocionar, de usar a música para que a plateia chegue às lágrimas e até mesmo
a escolha dos atores com o objetivo de enfeitar a cena com rostos e palavras de
ternura. Tudo em exagero.
E não precisava nada disso porque a
história de Kat é suficientemente triste e comovente para as pessoas se
emocionarem com naturalidade, sem precisar ser empurradas por clichês melosos.
Não li o livro do mesmo nome do
filme, escrito por Heloisa, a mãe adotiva de Kat, mas dizem que é “devastador”.
O que aconteceu então? Algo ocorreu na adaptação para o roteiro, escrito
principalmente por Marcos Bernstein (“Central do Brasil”) e pelo diretor, que
diz que quis honrar a mãe e seu gesto de adotar a menina, com o filme “Pequeno
Segredo”.
Mas se o filme ganhar o Oscar porque
combina com “a cabeça dos velhinhos da Academia”, como disseram alguns para
justificar a escolha pela comissão do Ministério da Cultura, será um insulto
tanto para os votantes do Oscar quanto para David Schurmann, que teria feito um
filme para agradar pessoas conservadoras.
E além de tudo, essa justificativa
não passa de um grande equívoco porque, se pensarmos no último filme premiado
como melhor estrangeiro, o húngaro “Filho de Saul”, ele é um dos mais cruéis
retratos da natureza humana. Nada a ver com “velhinhos
conservadores”.
É uma pena porque parece que, mais
uma vez, o Brasil fica fora do Oscar. Mas não custa esperar pela primeira lista
dos nove escolhidos que sai no começo de janeiro...
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