Direção: Hirokazu
Kore-Eda
Ele é o cineasta dos afetos
delicados. Os últimos filmes dele, que vimos por aqui, foram “Pais e Filhos”de
2013, prêmio do Júri em Cannes, “Nossa Irmã Mais Nova”de 2015 e agora, “Depois
da Tempestade” que ganhou o prêmio da crítica da 40a Mostra Internacional de Cinema de SP. Todos encantadores, apesar de não pouparem os comentários sobre
os defeitos da natureza humana.
Kore-Eda, 54 anos, além de diretor, é
também roteirista e montador e seus filmes são quase sempre em torno à família,
o microcosmo do mundo humano. E por isso, ele consegue ser universal falando do
Japão.
O filme começa com Yoshiko (Kirin
Kiki, atriz fabulosa) conversando na pequena cozinha da casa dela com sua filha
(Satomi Kobayashi) sobre o tufão que se aproxima:
“- É o 23º desse ano... Muitos para
um ano só...”, comenta a senhora. E conta que, antes temia mas agora gosta de
tufões, porque antes não se sentia segura na casa que morava, como naquele
apartamento. E fala do marido com alguma nostalgia:
“- A senhora parece ter saudades
dele...”comenta a filha irritando a mãe.
“- Imagina!” resmunga
ela.
“- A mãe precisava arranjar
amigos...”sugere a filha.
“- E arranjar mais enterros para ter
que ir?”responde a senhora.
Esse é humor que Kore-Eda vai buscar
no meio de conversas quotidianas banais entre mãe e filhos. Porque Ryota
(Hiroshi Abe) vai aparecer também na casa da mãe, que ainda tem esperanças de
que o filho mais velho se torne um grande escritor de
sucesso:
“- Dizem que os grandes talentos
desabrocham mais tarde”, divaga ela, aguçando os ciúmes da
filha.
O tempo todo há menções ao pai deles,
marido já falecido de Yoshiko, que ela acha parecido com seu filho Ryota. Até
por isso percebemos o afeto que emana da figura dessa mãe que se preocupa com o
filho divorciado.
Vemos Ryota no trem e ele é muito
alto, mal ajambrado mas bonito. Leva um bloquinho na mão, onde não escreve nada.
Está à procura de inspiração para um novo livro. Ele é o autor de um único livro
publicado, “Mesa Vazia”. E seu vício é o jogo. Separado da mulher (Yoko Maki)
tem direito a ver o filho uma vez por mês , se for pontual no pagamento da
pensão, o que nem sempre ocorre. E Ryota morre de ciúmes do namorado
dela.
Para conseguir algum dinheiro para a
pensão e viver modestamente, Ryota é detetive particular em casos de divórcio,
principalmente. Ele e o parceiro seguem os maridos e esposas infiéis para
flagrá-los em fotos úteis para o processo do divórcio.
E quando visita a mãe, pede perdão a
ela por não conseguir dinheiro para que ela mude para um lugar mais
luxuoso:
“- Perdão mãe por ser um filho
fracassado...”
Mas não há angústia no que ele diz.
Percebemos que tanto ele quanto a mãe gostam da ex-mulher de Ryota e ficariam
felizes se ele voltasse para ela. Há uma esperança de que a família de novo
reunida dê um rumo novo à vida deles.
E vamos seguindo com interesse os
pequenos dramas que acontecem nessa família, os ciúmes entre irmãos, a
preocupação com o dinheiro, com o futuro, com a
felicidade.
“- É preciso abrir mão de muita coisa
para ser feliz”, diz a mãe para o filho numa conversa antes do
tufão.
E o vendaval e a chuva desabam sobre
eles, mais para uni-los, sem causar estragos. Ao
contrário.
Kore-Eda é um mestre do simples e
delicado. Comove sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário