Direção: Natalie Portman
A bela israelense Natalie Portman chegou aos três anos
de idade, com a família, nos Estados Unidos. Lá estudou psicologia em Harvard e
como atriz ganhou um Oscar pelo papel em “Cisne Negro”.
Admiradora de Amos Gitai, ela resolveu tentar a direção
e, no seu primeiro longa, escolheu adaptar para o cinema as memórias do mais
famoso escritor israelense, Amós Oz, 76 anos.
Assim fazendo, ela homenageou suas origens e mostrou
talento para adaptar e dirigir um livro denso, com mais de 600 páginas, que
conta 20 anos da história de Israel.
Foi obrigatório um recorte e Natalie Portman escolheu
retratar, como o centro de seu filme, a relação entre o menino Amós (o excelente
Amir Tessler) e sua mãe Fania, vivida com intensidade pela atriz e
diretora.
O filme começa mostrando, através da visão do menino
judeu de 6 anos, a vida em 1945, na Palestina, ainda sob o mandato britânico,
passando depois pela criação do Estado de Israel e a guerra da Independência em
1948/49, retratando o sofrimento e a coragem dos que lutaram pelo nascimento de
uma pátria.
A diretora faz o próprio Amós Oz ser o narrador de sua
vida, interpretado por um ator, que repete as palavras que ele escreveu aos 30
anos, idade com que sua mãe morreu. Ela era uma romântica sonhadora, conta ele.
Acreditava na terra onde jorrava leite e mel.
Seu pai, o escritor Arieh Klausner, era de uma família
que veio da Polonia (na época Ucrânia) para a Palestina, em 1933. Era o oposto
de sua mãe, entusiasmado e acadêmico, apaixonado pela lingua hebraica, mas sem
muito público para seu livro “Os Contos da Literatura
Hebraica”.
Os avós paternos de Amós viviam também em Jerusalém e a
mãe e as irmãs de Fania em Telavive. A mãe de Amós tinha uma péssima relação com
sua mãe dominadora e repetia, com certa distância, a mesma relação com a
sogra.
No filme, vemos como ela procurava a solidão, parou de
contar histórias e desenvolveu um quadro de enxaquecas que não a deixavam
dormir. Da apatia para uma mudez, da insônia para sintomas de uma depressão
grave, que vão levá-la ao suicídio. Sempre inexplicável para os que
ficam.
E é tocante perceber como o menino agia com ela com
cuidado, como se pudesse mitigar suas angústias. E, nos damos conta de como deve
ter sido trágica essa morte para ele. Escreveu: “Minha mãe começou a pensar na
morte como se fosse um amante protetor, quando as promessas de sua infância não
foram cumpridas”.
E como eram pungentes as histórias, verdadeiras
parábolas sobre sua vida, sempre com elementos de tragédia, que Fania contava
para o filho. Ao ouvi-las, vemos as imagens poéticas escolhidas por Natalie
Portman para ilustrá-las: a aldeia abandonada invadida pelos pássaros negros, a
mulher vendida pelo marido no jogo de cartas que se mata com fogo, o jovem
militar polonês que atira na própria cabeça, o comerciante de peles raras que
enlouqueceu de pena pelas raposas mortas e outras mais, que certamente
inspiraram o filho escritor.
Aos 15 anos, ele mudou seu sobrenome para Oz, que quer
dizer “coragem” em hebraico e foi viver num”kibutz”, onde fica afastado do
pai.
E, desde cedo, ele se preocupava com o destino dos
árabes que compartilhavam a Palestina com os judeus. Isso é traduzido numa frase
que ele, pequeno, diz para a menina árabe, Aisha, que ele encontra numa festa:
“nosso país tem lugar para nossos dois povos”.
Nos anos 70, Amós Oz vai fundar o movimento pacifista
israelense “Schalom Achschan”(Paz Agora), que defende a criação de dois estados
independentes, um judaico, outro árabe.
“De Amor e Trevas” é um filme comovente, que ensina um
pouco da história de Israel e mostra que Natalie Portman, 35 anos, além de
grande atriz, promete como diretora.
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