Direção: Hirokasu Kore-Eda
Conviver com as irmãs Koda, ao assistir “Nossa Irmã Mais
Nova”, é partilhar de momentos de delicadeza, feminilidade, beleza e humor, mas
também perceber o amor e o ódio subterrâneos, a culpa à espera de perdão, o
egoísta julgamento severo só para os outros e outros sentimentos humanos
universais.
A diferença é que aqui há graça e
calma.
Três irmãs moram numa casa antiga e acolhedora, que foi
da avó delas, em Kamakura, cidade litorânea, perto de Tóquio. No jardim há uma
árvore que foi plantada quando a mãe delas nasceu. A ameixeira tem 55 anos e
produziu frutos para o licor que três
gerações de mulheres compartilharam. Na cozinha ainda existem frascos da época
da avó das irmãs Koda. É o mais saboroso.
A mãe delas se foi quando se separou do pai das meninas
ainda muito pequenas e é a mais velha, Sachi, 29 anos, (Aruka Ayase, bela como
uma boneca de porcelana), que cuida da casa e das irmãs, além de trabalhar como
enfermeira num hospital.
A segunda irmã, Yoshino, 22 anos, (Masami Nagasawa)
adora uma cerveja e tem um namorado atrás do outro. Ela trabalha num pequeno
banco, atendendo o público. E a terceira, Chika, 19 anos, (Kaho), vende artigos
numa casa de esportes.
Confrontadas com a notícia da morte do pai, que não viam
há 15 anos, partem para o enterro em Yamagata, cidade mais ao norte. E lá, ficam
conhecendo a meia-irmã mais nova, filha da mulher que “acabou com o casamento da
mãe delas”, segundo as palavras da tia. A mãe de Suzu, de 13 anos, morrera muito
cedo e o pai se casara de novo, com uma mulher que já tinha um
filho.
A irmã mais nova é doce, delicada, educada e logo
conquista as irmãs. Foi ela que cuidou do pai delas até o fim, já que a madrasta
é uma pessoa egoísta e não disponível.
Quando o trem parte com as três irmãs, Suzu (Suzu
Hirose) escuta o convite da irmã mais velha, que percebeu que ali não era mais
um lugar para a irmãzinha:
“- Venha morar conosco. A nossa casa é velha e grande.
Pense nisso!”
Mas Suzu, abre um sorriso e responde imediatamente,
antes que a porta do trem se feche:
“- Eu vou!”
E corre atrás do trem, acenando para as
irmãs.
O diretor Kore-Eda adaptou a história das quatro irmãs
de um mangá (história em quadrinhos) muito conhecido no Japão, de Akimi Yoshida,
“Diário de uma cidade à beira-mar”. E visita o universo feminino pela primeira
vez. Seu filme anterior, que Ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2013,
“Pais e Filhos”, centrava-se no papel de pai e filho. Mas agora é a vez de
mostrar o papel da mãe. Um personagem do filme diz:
“- É difícil quebrar o elo entre mãe e
filha.”
E a história mostra que nem sempre é a mãe que cuida dos
filhos. E também que, quando uma menina diz que odeia a mãe que morreu, é porque
queria ficar mais tempo com ela. E outra ainda, só pede perdão por não ter sido
uma boa filha, defronte ao túmulo da mãe, na frente da própria filha para a qual
também não foi uma boa mãe.
Ou seja, ser uma boa mãe não é algo instintivo. Tem a
ver com a personalidade da mulher, que não obrigatoriamente se sente
maternal.
Certamente algumas pessoas vão se entediar com o filme.
Mas outras vão aproveitar para receber a porção de doçura e beleza, ao som da
trilha sonora de Yoko Kannoi,
que o filme de Kore-Eda proporciona. Não estamos
precisados disso nesse mundo apressado e duro em que
vivemos?
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