Direção: Gustavo Taretto
Buenos Aires à noite. Prédios iluminados vão apagando
suas luzes. A madrugada ganha vida e morre. Amanhece. Os primeiros raios de sol
iluminam a arquitetura da cidade.
“Vem aí o sol”, canta George Harrison (“Here comes the
sun”) e um grupo de mulheres começa a aparecer num telhado de um prédio da
cidade. É verão e as adoradoras do sol, com seus biquinis coloridos e jeitinho
portenho de ser, estendem-se para se bronzear.
Seis mulheres de classe média, com profissões diferentes
mas com os mesmos sonhos, abrem seus corações e falam de seus desejos e
medos.
Estamos nos anos 90, Menem é presidente e o consumo
anima o país. Sabemos que isso durou pouco.
O filme de Gustavo Taretto, diretor e roteirista do
sucesso “Medianeras”, interessa-se aqui pelo universo feminino que ele usa como
metáfora da humanidade. Faz delas o centro de sua câmera e convidou uma
roteirista, Graciela Garcia, para diálogos típicos de
mulher.
É como se elas estivessem num espaço de imaginação e
sonhassem em tornar o faz-de-conta em realidade, já que, apesar dos poderes
anti-depressivos do sol, elas não estão satisfeitas.
Aprisionadas naquele terraço, com um mar de papelão
anunciando as maravilhas do mar e areias de Cuba, elas pensam em como fugir da
prisão de suas vidas comuns.
A eterna insatisfação do ser humano está presente
naquelas mulheres jovens que desejam homens que as façam possuidoras de coisas
(apartamento, carro, viagens) e que as desejem mais que às outras, enquanto se
consolam , momentaneamente, com alfajores, Cuba Libre e um baseado, torrando ao
sol com um bronzeador feito em casa.
Elas sonham com o Caribe e com o comunismo da ilha de
Fidel e do “Che”, onde seria possível não trabalhar e viver um ano, se
conseguissem míseros 240 dólares para cada uma. Que maravilha seria o mar
transparente, os hotéis com piscina e todo o resto incluso na diária barata, os
homens másculos, a noite cubana e a salsa.
Flor, Vale, Lala, Kari, Sol e Vicky são bonitas de se
ver e as atrizes que as interpretam, Carla Peterson, Maricel Alvarez, Luisana
Lopilato, Marina Bellatti, Elisa Carricajo e Violeta Urtizberea, tem talento
para divertir, dançar e se mostrar (já que passam o tempo todo de biquini) e
fazem de “Las Insoladas” um filme que não se obriga a ser só comédia escancarada
e arrisca espirituosidade e humor.
“Las Insoladas” é bem agradável de ver e muitos podem
sair do cinema pensando em suas próprias “prisões”, douradas ou
não.
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