Direção: Ken Loach
O confessado último filme do diretor Ken Loach, quase 80
anos, várias vezes premiado em Cannes, conta uma história real. Ele diz que só
fará documentários daqui em diante.
Jimmy Gralton (1886-1945), interpretado com carisma por
Barry Ward, depois de passar anos como imigrante nos Estados Unidos, por causa
da Depressão volta a seu país natal, a Irlanda, em 1932, de onde havia saído
após a luta de seu povo pela independência do Império Britânico
(1919-1921).
Em 1922 eclodiu uma guerra civil entre os que aceitavam
o Tratado imposto pelos ingleses e os que o recusavam. As forças que aceitaram o
Tratado foram apoiadas pela Grã-Bretanha e venceram a guerra
civil.
Quando Jimmy volta, dez anos depois, uma mudança de
governo promete mais paz no futuro.
Mas, como diz o padre da aldeia (Jim Norton, excelente),
que visita a mãe de Jimmy para saber se ele tinha
mudado:
“ - Vindo de Nova York, ele vai estranhar nossa vida
simples e humilde. Passamos um tempo violento e difícil, Alice... Foi irmão
contra irmão, vizinho contra vizinho. As cicatrizes no coração levam tempo para
fechar... Mas, eu sinto uma nova atmosfera, inclinada ao perdão. Concorda?
“
A velha senhora, que o escuta com olhos preocupados,
responde:
“- Sim. Mas tem que haver respeito
mútuo.”
E muita gente espera Jimmy em sua casa, quando ele
chega. A câmara de Loach aproxima-se dos rostos dos camponeses rudes, alegres
com a festa pela volta de um líder deles:
“- O que vai fazer agora,
Jimmy?”
“- Vou ajudar minha mãe e ter uma vida
tranquila.”
Resposta que faz todos rirem, já que conhecem o
temperamento de Jimmy.
A moça (Simone Kirby) que servia os sanduiches, sai com
sua bicicleta e ele corre atrás:
“-Oonagh!”
E entrega presentes para os filhos dela e uma caixa
grande:
“- Por que parou de escrever?”
“- Você sabe...” responde com
tristeza.
O clima é de pesar mas há calor e saudade naqueles dois.
O vestido, que ele trouxe para ela, vai enfeitar uma das cenas mais bonitas do
filme.
De volta do campo onde foram buscar turfa na lama, Jimmy
e seus companheiros encontram moças e rapazes dançando na estrada, ao som de
instrumentos tocados por outros do grupo.
E Jimmy é saudado com entusiasmo porque aqueles jovens
já sabiam do seu “hall” e queriam que ele o reabrisse.
“- Estamos desempregados e à toa”, diz um
rapaz.
“- Queremos um lugar aquecido onde a gente possa dançar,
cantar, aprender coisas”, acrescenta uma mocinha.
E é a história desse famoso “hall”, desse salão onde os
jovens vão aprender os passos das novas danças dos negros americanos com Jimmy,
que vai ser contada. Um lugar de conhecimento e liberdade, que incomoda tanto os
padres católicos locais quanto a polícia e os donos das
terras.
“O “hall” de Jimmy é sobre a possibilidade de aprender,
de transpor limites e também sobre as forças que tentam impedir que isso ocorra
com as pessoas”, diz o roteirista.
Ele e o diretor Ken Loach, fizeram, principalmente, um
belo filme contra toda forma de autoritarismo.
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