Direção: Woody Allen
A fama precedeu a chegada de Abe Lucas (Joaquim Phoenix)
na universidade onde vai lecionar. Fofocas sobre ele ser mulherengo, manter
casos com as alunas, ter um problema com a bebida e não ser uma pessoa de
temperamento fácil, já rolavam nos corredores do “campus” antes da presença dele
por lá.
Mas ele parece deprimido nas aulas, semblante desanimado
e distante. Com um “quê” de arrogância, fala dos filósofos com um desprezo sem
disfarce:
“- Para os existencialistas, nada acontece até você
chegar no fundo do poço.”
Em “off”, ouvimos o comentário da aluna dele, Jill (Emma
Stone):
“- Acho que Abe estava louco desde o
começo.”
Mas não prestamos muita atenção nisso que ela diz porque
as cenas se desenrolam na tela, mostrando o professor bonitão, alvo de
comentários também de Rita, a professora morena atraente (Parker Pousey) que dá
em cima dele, abertamente:
“- Desde que eu soube que você vinha, fantasiei que nos
encontraríamos e algo especial aconteceria...”
Mas quando ele a levou para a cama foi uma
decepção.
E o desequilíbrio de Abe aparece com clareza quando faz
“roleta russa”, diante de estudantes assustados, numa
festinha.
“- Havia algo errado com Abe mas eu estava fascinada por
ele” diz Jill, romântica.
Ela era a melhor aluna do professor de filosofia e
falava muito dele, a ponto de provocar ciúmes no namorado e preocupação na mãe
dela:
“- Espero que você não esteja se interessando demais por
ele...”
Todos os indícios estavam presentes mas a negação de
Jill, empenhada em ser a salvadora da vida de Abe e renovar seu prazer de viver,
era alimentada pelo professor que começou a seduzi-la, ao mesmo tempo negando-se
a ela:
“- Você merece alguém melhor do que
eu.”
Nas aulas, ele continuava
irreverente:
“- Se vocês não aprenderem nada comigo, pelo menos
aprendam que filosofia é masturbação mental.”
E o esperado momento em que Abe Lucas encontra um
sentido para sua vida e um novo prazer em viver, tem as características do acaso
e a justificativa irracional de que um crime perfeito não tem nada de imoral, já
que está sendo praticado para ajudar alguém e a livrar o mundo de um ser
desprezível.
Mas sua auto-destruição continua trabalhando nas sombras
e ele deixa rastros evidentes de suas ações.
Semelhanças com “Crime e Castigo” de Dostoievski não são
mera coincidência. O livro está na mesa de trabalho de Abe e ele anotou, nas
margens, ideias de Hannah Arendt sobre a “banalidade do
mal”.
Woody Allen, 79 anos e com um filme por ano, desde que
começou a fazer cinema em meados dos anos 60, não está interessado em agradar
multidões. Seu filme “Homem Irracional” é sofisticado, tem um humor negro
sedutor e é recomendado para quem tem interesse em psicologia. O diretor e
roteirista está interessado em pensar sobre a irracionalidade do ser humano, que
vemos por aí, ora vestida com trajes religiosos, ora aparente nos discursos
moralistas e até mesmo muito provável entre os
narcisistas.
Quem puder apreciar, vai se deleitar com “Homem
Irracional”.
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