“O Pequeno Príncipe”- “Le Petit Prince”, França,
2015
Direção: Mark Osborne
Meu primeiro livro “O Pequeno Príncipe”, eu ganhei aos 8
anos, presente de uma estrela. Ela era linda, poeta e morreu jovem, aos 36 anos.
Nunca a esquecerei, Lupe Cotrim Garaude.
Na animação, que está nas telas, vemos as páginas do
livro, com seus desenhos cheios de delicadeza e imaginação e a letra cursiva com
que as frases famosas são escritas.
“Você é responsável por aquilo que cativa”, tradução do
francês “Tu es responsable de ce que tu as apprivoisé.”
Quem conhece a história sabe que essa é uma frase que a
raposa diz para o pequeno príncipe.
A dificuldade de traduzir o verbo “apprivoiser”, eu só
fui encarar alguns anos mais tarde, quando ganhei meu segundo livro do “Le Petit
Prince”, em francês.
Não é difícil encaixar os verbos domar, domesticar,
amansar, que estão no dicionário, para falar da amizade entre a raposa e o
menino. Mas como fica quando o verbo se refere à rosa amada e um ser humano
querido? Escolheram “cativar” na tradução e eu achei que soava
estranho.
Mas quando a raposa explica as consequências de
“apprivoiser/cativar” alguém, o verbo se encaixa bem:
“- Mas se você me cativa, nós vamos precisar um do
outro. Você será único no mundo para mim. Eu serei única no mundo para você.” (
No francês: “- Mais si tu m’apprivoises nous aurons besoin l’un de l’autre. Tu
seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde.”)
É uma história cativante.
Alguns vão relembrar, outros vão conhecer essa história,
pela primeira vez, com o desenho animado encantador do americano Mark Osborne,
que tem uma menina de 8 anos, tristinha mas esperta, que precisa estudar o tempo
todo, seguindo a agenda que a mãe preparou para ela. Acontece, porém, que a mãe
trabalha o dia todo.
Sentindo-se solitária, a menina descobre um dia seu
vizinho, um velhinho que vive na casa ao lado, diferente de todas as outras
casas daquele bairro cinzento.
Ele quer consertar o avião que está em seu quintal e
voar novamente. Porque ele tinha sido um aviador e conta para a menina a
história de um pequeno príncipe que ele encontrou, quando ainda era jovem, no
meio do deserto onde seu avião aterrissou depois de sofrer uma pane.
E a menina passa a ler a história nas páginas que o
velhinho dá para ela. E se encanta. Os dois ficam amigos e partem para viver juntos novas
aventuras.
Claro que o velhinho é o próprio Saint-Exupéry
(1900-1944), autor do livro “O Pequeno Príncipe”, 1943.
Eu me lembrei demais de mim mesma, aos 8 anos,
embasbacada com o desenho da jiboia que engoliu o elefante e da rosa protegida
pela redoma de vidro. Não precisa nem dizer que as raposas se tornaram um dos
meus bichos preferidos.
O uso de duas técnicas de animação cria um belo
contraste entre as duas histórias que são contadas.
O 3D do mundo cinza da garota e o “stop-motion” com as
figuras coloridas do livro, em “papier maché”, que empresta uma beleza especial
às cenas no deserto, aos personagens do rei, do homem vaidoso, da raposa, da
serpente e da rosa mimada.
Chorei em muitas passagens e me dei conta de que “O
Pequeno Príncipe” é uma história sobre perdas e sobre a morte. E ensina a
maneira de nos consolarmos e conseguir aceitar a realidade da existência humana,
com poesia e delicadeza.
“Só com o coração a gente vê bem. O essencial é
invisível para os olhos.”
Difícil para uma criança entender, mas depois, vai fazer
sentido, se ela se lembrar do que leu e agora viu no filme.
Recomendado para crianças e adultos
sensíveis.