Direção: Ruben Oslund
Montanhas altas cobertas pela neve fresca da manhã e o
sol que faz tudo cintilar são o cenário ideal para aquela família sueca, em
férias nos Alpes franceses.
Um fotógrafo aparece e faz o grupo familiar, meio
constrangido, encenar união, afeto e carinho:
“- Juntem as cabeças! Sorriam!”
Esse ritual faz parte do pacote das férias, que a mãe
Ebba (Lisa Loven Kongli) explica para outra hóspede do
hotel:
“- Meu marido tem trabalhado muito, então achamos bom
sair alguns dias com as crianças.”
E, na segunda manhã, lá vai outra vez a família para as
pistas, o pai sempre na frente, seguido pelo menino menor e a menina e a mãe
atrás, protetora.
Hora do almoço, eles relaxam no terraço do restaurante,
ao sol. É quando acontece algo inesperado.
Numa estação de esqui como aquela, todos sabem que os
pisteiros detonam avalanches com dinamite, em lugares onde as pessoas não
esquiam. Por isso, todos no terraço sacam seus celulares para fotografar aquele
espetáculo inusitado, bem na montanha em frente. Nada parece perigoso mas
fantástico.
A neve desce pela encosta, avolumando-se e a avalanche
não para mas continua vindo, assustadoramente, para cima dos turistas. Alguns já
se levantam das cadeiras e correm.
Ebba grita pelo marido Tomas (Johannes Kulnke), agarrada
aos filhos. Em meio à neblina provocada pela nuvem de neve que os atingiu,
percebemos que Tomas não está ali.
Passado o susto, a neve assenta e o sol já brilha e os
que correram voltam para seus lugares, aliviados.Tomas está entre eles e parece
não dar-se conta do olhar de Ebba.
“- Eles sempre controlam muito bem essas situações. Não
havia perigo, afinal...”desconversa Tomas.
Mas o estrago já estava feito. Ebba olha para o marido
como se não o reconhecesse. Onde está o protetor, pai de seus filhos e amor da
vida dela?
Aquela quase-tragédia na verdade fez desmoronar a imagem
que tanto Ebba como o próprio Tomas faziam do papel do pai e
marido.
Pior. Tomas parece evitar o contato com o que aconteceu.
Sua fragilidade emergiu à sua revelia. Sua auto-estima vai sofrer uma queda
brutal.
E o que eram férias prazerosas transformam-se num
pesadelo. Questionadas as ilusões que cada um do casal tinha a respeito do
outro, agora são quase estranhos. Os filhos assustam-se com o que veem acontecer
e sentem-se ameaçados.
Mas, na verdade, quem é que pode dizer o que faria na
mesma situação? O interessante de “Força Maior” é que o diretor e roteirista,
Ruben Oslund, 40 anos, nos coloca pensando nisso. Tanto na fuga de Tomas como na
reação de Ebba.
Trata-se aqui de questionar o que se espera do outro e
na reação punitiva da decepcionada sobre o que decepcionou mas que nada pode
fazer, porque já aconteceu o que nem ele previra.
“Força Maior” é um filme inteligente e questionador.
Ganhou o prêmio do júri na mostra paralela “Un Certain Regard”, no Festival de
Cannes 2014 e merece ser visto.
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