segunda-feira, 2 de março de 2015

Força Maior


“Força Maior”- “Force Majeure”, Suécia, 2014
Direção: Ruben Oslund

Montanhas altas cobertas pela neve fresca da manhã e o sol que faz tudo cintilar são o cenário ideal para aquela família sueca, em férias nos Alpes franceses.
Um fotógrafo aparece e faz o grupo familiar, meio constrangido, encenar união, afeto e carinho:
“- Juntem as cabeças! Sorriam!”
Esse ritual faz parte do pacote das férias, que a mãe Ebba (Lisa Loven Kongli) explica para outra hóspede do hotel:
“- Meu marido tem trabalhado muito, então achamos bom sair alguns dias com as crianças.”
E, na segunda manhã, lá vai outra vez a família para as pistas, o pai sempre na frente, seguido pelo menino menor e a menina e a mãe atrás, protetora.
Hora do almoço, eles relaxam no terraço do restaurante, ao sol. É quando acontece algo inesperado.
Numa estação de esqui como aquela, todos sabem que os pisteiros detonam avalanches com dinamite, em lugares onde as pessoas não esquiam. Por isso, todos no terraço sacam seus celulares para fotografar aquele espetáculo inusitado, bem na montanha em frente. Nada parece perigoso mas fantástico.
A neve desce pela encosta, avolumando-se e a avalanche não para mas continua vindo, assustadoramente, para cima dos turistas. Alguns já se levantam das cadeiras e correm.
Ebba grita pelo marido Tomas (Johannes Kulnke), agarrada aos filhos. Em meio à neblina provocada pela nuvem de neve que os atingiu, percebemos que Tomas não está ali.
Passado o susto, a neve assenta e o sol já brilha e os que correram voltam para seus lugares, aliviados.Tomas está entre eles e parece não dar-se conta do olhar de Ebba.
“- Eles sempre controlam muito bem essas situações. Não havia perigo, afinal...”desconversa Tomas.
Mas o estrago já estava feito. Ebba olha para o marido como se não o reconhecesse. Onde está o protetor, pai de seus filhos e amor da vida dela?
Aquela quase-tragédia na verdade fez desmoronar a imagem que tanto Ebba como o próprio Tomas faziam do papel do pai e marido.
Pior. Tomas parece evitar o contato com o que aconteceu. Sua fragilidade emergiu à sua revelia. Sua auto-estima vai sofrer uma queda brutal.
E o que eram férias prazerosas transformam-se num pesadelo. Questionadas as ilusões que cada um do casal tinha a respeito do outro, agora são quase estranhos. Os filhos assustam-se com o que veem acontecer e sentem-se ameaçados.
Mas, na verdade, quem é que pode dizer o que faria na mesma situação? O interessante de “Força Maior” é que o diretor e roteirista, Ruben Oslund, 40 anos, nos coloca pensando nisso. Tanto na fuga de Tomas como na reação de Ebba.
Trata-se aqui de questionar o que se espera do outro e na reação punitiva da decepcionada sobre o que decepcionou mas que nada pode fazer, porque já aconteceu o que nem ele previra.
“Força Maior” é um filme inteligente e questionador. Ganhou o prêmio do júri na mostra paralela “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes 2014 e merece ser visto.

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