Direção: Ira Sachs
Quando será que o amor é
estranho?
No caso daqueles dois homens, já maduros, cercados por
amigos e família, que se casam em Nova York, na frente de um juiz, só
preconceituosos falariam assim.
Juntos há quase quatro décadas, o pintor Ben (John
Lithgow) e o professor de música George (Alfred Molina), se amam de verdade.
Foram até inspiração para o casamento de Kate( Marisa Tomei). Ela conta com
graça, na festa, para todos ouvirem, que foi pedida em casamento por causa dos
dois. O clima de carinho e parceria em que eles viviam, inspirara o pedido de
Elliot, sobrinho de Ben.
Eles são queridos por todos e parecem
felizes.
Mas aqueles que acham esse amor estranho, pecaminoso
até, vão conseguir fazer com que a felicidade de Ben e George se transforme numa
separação forçada.
George, por causa da exposição de sua relação com Ben,
oficializada pelo casamento, perde o emprego na escola católica onde lecionava
música e era maestro do coral. E o dinheiro deles não dá mais para manter o
apartamento em que viveram juntos por 20 anos.
Os dois passam a depender da generosidade alheia e vão
viver separados. Ben na casa de Kate e Elliot, dividindo o quarto com o filho
deles, o adolescente Joey. E George vai para o sofá na casa dos amigos,
policiais gays, onde a vizinhança faz uma festa todo dia até altas
horas.
É a ocasião para o diretor Ira Sachs, 49 anos,
co-roteirista com o brasileiro Mauricio Zacharias, falar de temas como a
intimidade, convivência forçada, família e sucessão de gerações. Tudo em torno à
separação do casal, com os problemas vividos por eles e por aqueles que os
recebem em suas casas.
Porque “O Amor é Estranho” centra-se no casal Ben e
George, mas mostra também a vida de outros casais à volta deles. E, apesar dos
pesares, o casal separado por força das circunstâncias, mostra algo difícil de
se ver. Há entre eles uma ternura rara, um prazer na companhia um do outro, que
os dois atores, escolhidos pelo diretor, nos transmitem com
brilho.
E percebemos que o amor pode ser estranho em outro
sentido. Porque é um sentimento que enfrenta dificuldades e se fortalece,
resistindo aos dissabores e, fazendo de cada encontro de George e Ben, uma
fruição intensa.
Mais. Quem é amado e ama como aqueles dois, fará sempre
a diferença por onde passar. Ben, por exemplo, ajuda Joey (Charlie Tahan) a ter
coragem para viver o amor, como vemos na bela cena final do
filme.
É quase nada ou ao contrário, é muito o que vamos ver
nesse filme comovente, que mostra acontecimentos da vida, ao som das românticas
peças para piano de Chopin.
Nada piegas, nem escandaloso, “O Amor é Estranho” é um
filme primoroso.
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