Direção: Ned Benson
Felizes como duas crianças, eles fogem do restaurante
sem pagar a conta do jantar, rindo muito e vão fazer amor no
parque.
Por isso levamos um choque, quando a vemos, com um rosto
sem brilho e olhos baixos, largar a bicicleta e correr para o que adivinhamos
ser a murada da ponte. Não vemos a queda mas o mergulho e o resgate de seu corpo
quase sem vida.
No hospital, braço na tipoia e inerte na cama, seu rosto
sem viço é olhado com um misto de simpatia e medo.
Eleanor (Jessica Chastain) ganhou esse nome do pai,
Julian Rigby, fã dos Beatles. E agora, ironicamente, ela faz mesmo parte da
canção que pergunta para onde vão todas essas pessoas solitárias. Não foi
enterrada ainda, como a Eleanor Rigby de Lennon e McCartney, mas é como se já
estivesse morta e então, inventa outra pessoa para ficar no lugar da outra que jaz com o seu passado. Ela está vazia.
Connor (James McAvoy), o marido e ela, voltam para as
respectivas casas paternas.
El, como todos a chamam em casa, cortou o cabelo ruivo
bem curto. Parece mesmo outra pessoa, menos pela aparência do que pela ausência
da antiga leveza.
Volta para a universidade, onde encontra uma professora
(Viola Davis, ótima) que a trata como um ser humano
normal.
“- Você deve odiar os Beatles”, diz brincando quando
ouve seu nome.
Será que há alguma chance para Eleanor? Por que ela não
quer mais ver o marido? O que foi que aconteceu com eles?
Deve ter sido algo muito duro... Percebe-se a raiva que
ela tem, por baixo da depressão que a cobre como um manto pesado e transparente,
que serve como uma barreira entre ela e o mundo.
Mas, como cita um amigo de Connor: “O amor é um campo de
batalha.” E a camera segue El, o marido também mas não se
aproxima.
“- Nenhum de nós sabe como ajudar você”, diz o pai dela
(William Hurt). E acrescenta: “A tragédia é como um país estrangeiro. Não
conhecemos a lingua dos nativos.”
A mãe (Isabelle Huppert), sotaque francês, sempre com um
copo de vinho na mão e distante, também não é de grande auxílio para a filha.
Ela se abre um pouco mais com a irmã, mãe solteira.
Para Connor, também não há colo com aquele pai (Ciarán
Hinds), bem sucedido e que não o compreende.
Mas, aos poucos, uma frase aqui, um olhar acolá, nos
damos conta do que aconteceu. E, finalmente, entendemos porque Eleanor Rigby
desapareceu.
O diretor e roteirista Ned Benson rodou dois filmes em
2013: “Her”e “His” contando a história sob o ponto de vista de cada um. Mas
depois juntou os dois no “Them”, aquele que vemos aqui. Seu primeiro
longa.
Jessica Chastain , que também produziu o filme, faz de
sua personagem uma mulher de verdade e mostra porque é uma das melhores atrizes
da atualidade. James McAvoy a segue de perto.
O filme é sensível, com uma fotografia noturna iluminada
por uma luz dourada e uma trilha sonora de bom gosto.
Quase que tocamos a fragilidade de Eleanor e Connor mas
também nos encantamos com a força inesperada que há dentro
deles.
O amor, que estava lá o tempo todo, vai poder ressurgir
do seu inverno?
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