Direção: Yoji Yamada
Um casal de idosos vem visitar os filhos que se mudaram
da terra natal e vieram morar em Tóquio.
Ficamos sabendo disso pelas conversas na casa do filho
mais velho, Koichi (Masahiko Nishimura), que é médico, casado, com dois filhos.
O caçula Shoji (Satochi Tsumabuki), ainda solteiro, foi
o encarregado de pegar os pais na estação de trem, já que é o que tem mais tempo
livre, mas ele se confunde e vai buscá-los no lugar
errado.
A filha do meio, Shigeko (Tomoko Nakajima), também
casada, é dona de um cabelereiro que fica na parte da frente de sua casa. Ouve a
confusão que o irmão menor causou e sentencia, expressando a opinião
geral:
“- Ele não faz nada direito. Não se pode confiar em
Shoji.”
O rapaz não tem um emprego fixo mas conserta cenários de
teatro e parece ser o menos estressado da família.
Os pais que chegam e não encontram o filho, ficam
sabendo pelo celular que ele se enganou e, calmos, pegam um
táxi.
Percebe-se pelo jeito dela, que a mulher é a alma
sensível e afetuosa do casal. O pai é mais fechado.
Ela, munida de um mapa desenhado num caderninho, tenta
ajudar o taxista a achar o endereço da casa do filho. Ele, furioso, explica sem
paciência que tem GPS no carro.
Aliás, parece que ninguém tem tempo, nem paciência em
Tóquio. Com raras exceções.
A chegada dos pais não deixa de ser uma alegria mas
também é um transtorno na vida dos filhos e netos ocupadíssimos com suas
próprias vidas. Não é que não gostem deles. Mas querem amá-los à
distância.
E isso é algo que poderia ocorrer em qualquer cidade
grande do mundo, onde a vida é complicada, cara e exige dedicação ao
trabalho.
E é o tema do filme. Nosso modo contemporâneo de viver
não dá lugar a nada que atrapalhe o nosso quotidiano entupido de afazeres.
Ficamos mais insensíveis?
Ao escutar que o neto mais velho tem que sair depois do
jantar para ir ao cursinho, a avó diz:
“- Mas ele estuda também à noite? Deve ser difícil
crescer em Tóquio...”
Ela é quem dá a nota de otimismo no filme. Liga
tranquila para a ilha onde vivem para saber do cachorro. E, ri, contente, quando
é informada que ele está bem e foi passear com a filha da
vizinha.
Preocupada com o filho mais moço, a mãe logo se dá conta
de que ele é mais parecido com ela do que pensava. E fica
feliz.
Lembrada como sendo uma pessoa gentil, ela, o filho
caçula e a namorada dele, são os personagens que dão a esperança de que, nesse
nosso mundo, ainda existe lugar para a gentileza, sentimentos delicados e
compaixão.
“Uma Família em Tóquio”
é uma homenagem de Yogi Yamada, de 83 anos, ao filme “Era Uma Vez em
Tóquio” do mestre Yasugiro Ozu (1903-1963), filmado em preto e branco em 1953 e
que foi escolhido como o melhor filme de todos os tempos por 358 cineastas do
mundo todo num concurso promovido pelo “British Film
Institute”.
Esse filme genial já denunciava as transformações
ocorridas na família tradicional japonesa naquela
época.
E faz coro com filmes atuais como “Pais e Filhos” e
“Album de Família”, por exemplo, que traduzem alguns dos problemas que esgarçam
as relações no núcleo familiar e que são preocupantes. Precisamos pensar
nisso.
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