quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Uma Família em Toquio


“Uma Família em Toquio”- “Tokyo Kazoozu”, Japão, 2013
Direção: Yoji Yamada

Um casal de idosos vem visitar os filhos que se mudaram da terra natal e vieram morar em Tóquio.
Ficamos sabendo disso pelas conversas na casa do filho mais velho, Koichi (Masahiko Nishimura), que é médico, casado, com dois filhos.
O caçula Shoji (Satochi Tsumabuki), ainda solteiro, foi o encarregado de pegar os pais na estação de trem, já que é o que tem mais tempo livre, mas ele se confunde e vai buscá-los no lugar errado.
A filha do meio, Shigeko (Tomoko Nakajima), também casada, é dona de um cabelereiro que fica na parte da frente de sua casa. Ouve a confusão que o irmão menor causou e sentencia, expressando a opinião geral:
“- Ele não faz nada direito. Não se pode confiar em Shoji.”
O rapaz não tem um emprego fixo mas conserta cenários de teatro e parece ser o menos estressado da família.
Os pais que chegam e não encontram o filho, ficam sabendo pelo celular que ele se enganou e, calmos, pegam um táxi.
Percebe-se pelo jeito dela, que a mulher é a alma sensível e afetuosa do casal. O pai é mais fechado.
Ela, munida de um mapa desenhado num caderninho, tenta ajudar o taxista a achar o endereço da casa do filho. Ele, furioso, explica sem paciência que tem GPS no carro.
Aliás, parece que ninguém tem tempo, nem paciência em Tóquio. Com raras exceções.
A chegada dos pais não deixa de ser uma alegria mas também é um transtorno na vida dos filhos e netos ocupadíssimos com suas próprias vidas. Não é que não gostem deles. Mas querem amá-los à distância.
E isso é algo que poderia ocorrer em qualquer cidade grande do mundo, onde a vida é complicada, cara e exige dedicação ao trabalho.
E é o tema do filme. Nosso modo contemporâneo de viver não dá lugar a nada que atrapalhe o nosso quotidiano entupido de afazeres. Ficamos mais insensíveis?
Ao escutar que o neto mais velho tem que sair depois do jantar para ir ao cursinho, a avó diz:
“- Mas ele estuda também à noite? Deve ser difícil crescer em Tóquio...”
Ela é quem dá a nota de otimismo no filme. Liga tranquila para a ilha onde vivem para saber do cachorro. E, ri, contente, quando é informada que ele está bem e foi passear com a filha da vizinha.
Preocupada com o filho mais moço, a mãe logo se dá conta de que ele é mais parecido com ela do que pensava. E fica feliz.
Lembrada como sendo uma pessoa gentil, ela, o filho caçula e a namorada dele, são os personagens que dão a esperança de que, nesse nosso mundo, ainda existe lugar para a gentileza, sentimentos delicados e compaixão.
“Uma Família em Tóquio”  é uma homenagem de Yogi Yamada, de 83 anos, ao filme “Era Uma Vez em Tóquio” do mestre Yasugiro Ozu (1903-1963), filmado em preto e branco em 1953 e que foi escolhido como o melhor filme de todos os tempos por 358 cineastas do mundo todo num concurso promovido pelo “British Film Institute”.
Esse filme genial já denunciava as transformações ocorridas na família tradicional japonesa naquela época.
E faz coro com filmes atuais como “Pais e Filhos” e “Album de Família”, por exemplo, que traduzem alguns dos problemas que esgarçam as relações no núcleo familiar e que são preocupantes. Precisamos pensar nisso.

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