Direção: Stephen Frears
Tudo começou naquele dia de 2003, em que Philomena,
sentada na capela da Virgem, parece melancólica e pensativa. O que será que a
entristece?
Stephen Frears, o diretor inglês do filme, que sabe
contar histórias humanas como ninguém, usa “flash backs” para que possamos
entender o que está se passando com aquela senhora.
Ela se vê no passado, mocinha, comendo uma maçã do amor
num parque de diversões. Um rapaz bonito se aproxima, conversam e de repente
estão longe de todos, num galpão. A maçã cai no chão.
Enquanto lágrimas enchem-lhe os olhos, ela se vê na
frente da Madre Superiora olhando severamente sua barriga
crescida.
“- Sua mãe não lhe falou sobre
rapazes?”
“- A mãe dela morreu há muito tempo, Madre” informa
outra freira.
“- As Irmãs da escola nunca disseram nada sobre bebês”, diz Philomena aos prantos.
“- As Irmãs da escola nunca disseram nada sobre bebês”, diz Philomena aos prantos.
“- Não ouse culpar as Irmãs pelo seu pecado! Sua
indecência!”
E logo Philomena se vê gritando de
dor.
“- O bebê está atravessado! Chamem um
médico!”
“- A dor é a penitência dela”, diz a Superiora, ao lado
da mesa ginecológica, onde Philomena se contorce.
Mais tarde, vindo da igreja, sua filha, ao ver um
retratinho emoldurado na mão de sua mãe, pergunta:
“- Quem é esse menino? “
“- Hoje é seu aniversário. Faria 50
anos.”
E, no coquetel em um hotel, a moça que serve o vinho,
escuta alguém dizendo que quer escrever um livro.
“- Desculpe. Não pude deixar de escutar sua conversa.
Quer escrever um livro? Conheço uma mulher que teve um bebê há 50 anos atrás. As
freiras o tiraram dela. Aconteceu na Irlanda. Talvez tenha sido dado em adoção,
sem o seu consentimento. Ela manteve o segredo por todos esses
anos.”
Aquele segredo de 50 anos e sua incrível história
aproximou Martin, o jornalista despedido da BBC e a senhora irlandesa. Ele viu
em Philomena uma oportunidade de escrever um livro e ela queria tanto encontrar
alguém que a ajudasse na sua procura pelo filho.
Martin Sixmith, que vai escrever o livro sobre o drama
de Philomena, capta em conversas com ela, sua ingenuidade, sua aceitação do que
acontecera mas também sua vontade de voltar a ver o filho. Então, sua atitude
inicial de distância, de buscar apenas um meio de ganhar dinheiro, é substituida
por uma proximidade com Philomena, uma mulher simples mas inteligente, de
natureza apaixonada e bem humorada.
Infelizmente, a história das freiras católicas que
acolhiam mães solteiras na Irlanda, desamparadas por suas famíias é verdadeira.
Em troca, as moças trabalhavam por 4 anos no convento, sem nada receber ou
tinham que pagar 100 libras. Uma fortuna
que nenhuma delas possuia. Seus filhos eram adotados, à revelia, por casais
americanos que pagavam 1.000 libras pela criança.
Judi Dench, empresta à essa mãe, com um segredo pesado,
uma espontaneidade e naturalidade desarmantes. Seus olhos azuis se tornam
cinzentos com a lembrança do filho que mal conheceu. Foi indicada a melhor atriz
do Oscar 2014.
A verdadeira Philomena Lee, 80 anos, foi vista na TV e
jornais, há pouco, com o Papa Francisco. Ela trabalha para ajudar as mães
solteiras da Irlanda, que sofreram o mesmo castigo que ela, a procurar seus
filhos. Guardou sua
fé.
Steve Coogan, que faz o jornalista é também co-autor do
roteiro do filme. A trilha sonora de Alexandre Desplat pontua a tristeza de
Philomena e nos comove. Também foram indicados ao
Oscar.
“Philomena” foi escolhido para estar na lista dos 9
melhores filmes do ano no Oscar. Se não ganhar, não tem importância, o público
vai saber apreciá-lo, tenho a certeza.
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