Direção: Felix Van Groeningen
A felicidade de dois jovens, Elise (Veerle Baetens) e
Didier (Johan Heldenbergh), mostrada em deliciosas cenas idílicas e sensuais no
campo, numa fazendinha que ele herdara dos pais, é bonita de se
ver.
O belo corpo branco dela ostenta tatuagens com figuras
de filigranas, rosas vermelhas, borboletas e um delicioso laço acima do bumbum.
São desenhos delicados e sofisticados. Obras dela, artista sensível que tem um
estúdio de tatuagem em Gent, na Bélgica, onde os dois se
conheceram.
Didier, muito alto, forte, um tipo rude mas carinhoso,
cabeludo e dono de uma barba selvagem, é encantado por Elise. Ele canta num bar
com sua banda “folk”, especializada em “greengrass”, música caipira dos Estados
Unidos, país que ele sonha conhecer.
Mas a canção que abre o filme, soa como uma nota
dissonante, rápidamente esquecida. Fala de um circulo que pode se quebrar e
pergunta ao Senhor se pode haver um melhor no céu. Escutamos mais o lado
religioso do que o ameaçador. E eles cantam tão lindamente inspirados, tão
saudáveis e animados no conjunto de cordas e vozes, que não dá para pensar em
coisas tristes.
E, no entanto, a tristeza virá. O colapso do circulo
acontecerá.
A segunda nota dissonante, que ficamos sabendo logo no
início, é que esse casal feliz vai ter uma menina que vai ficar
doente.
O diretor, Felix Van Groeningen, adaptou o que era uma
peça teatral para o cinema e conta a história indo e vindo no tempo, criando
suspense e levando o espectador a se envolver emocionalmente com os personagens,
vividos com intensidade pelos atores. A mistura de passado, presente e futuro
vai fazendo sentido ao longo do filme que caminha para um final
impactante.
Quando Elise fica grávida e Didier demora para se
posicionar, nosso coração se aperta. Mas logo depois o vemos reformando a casa e
Elise pintando figuras de sonho no quarto que vai ser de sua filha Maybelle
(Nell Cattrysse).
A menina é um anjo caido do céu, loura, alegre e
brincalhona. O circulo dos três, tão forte, com aquele pai amoroso e um pouco
duro no seu jeito realista de ver o mundo, a mãe delicada mas forte também no
seu modo feminino de ser, conhecedora de mais mistérios do que ele e o fruto
daquele amor, Maybelle, gritando e pulando, saudável e colorida, de botas azuis
e chapéu de cowboy, comove e nos conquista.
O luto é uma passagem difícil em nossas vidas. Sabemos o
quanto existe nele de dor e raiva e que muitas vezes parece enlouquecer. A
perigosa dor da perda pode destruir tudo o que de bom ainda nos resta. E
acontece de querermos morrer também.
Premiado em todos os festivais de que participou,
“Alabama Monroe”, concorre ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar
2014.
Mas, mesmo sem prêmio nenhum, é um filme que vale a pena
ver. Parece entristecer-nos de propósito para que possamos dar um valor maior à
vida e ao amor que nos é oferecido.
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