Direção: Pablo
Larraín
As sangrentas ditaduras
que maltrataram a América Latina a partir de meados do século passado, tiveram
seu fim decretado pela pressão popular.
No Chile, o presidente
socialista Salvador Allende foi derrubado por um golpe militar, em 11 de
setembro de 1973, que colocou no poder o general Pinochet
(1915-2006).
Todos conhecem as
histórias tristes de mortos, torturados e desaparecidos sob esse governo
ditatorial.
Uma das imagens mais
fortes da época, mostra o estádio de futebol de Santiago lotado de presos
políticos.
O filme chileno “NO”conta
a história de um plebiscito de 1988, encomendado pelo regime militar para fazer
face à pressão internacional e mostrar que o Chile estava indo de vento em popa.
Com direito à exibição da campanha na televisão estatal, os partidários do “SI”
contavam com uma vitória certa.
Foi um tiro que saiu pela
culatra.
Com roteiro de Pedro
Peirano que inspirou-se na peça de teatro “Plebiscito” de Antonio Skármeta, o
inédito de “NO” é que foi filmado como se tudo fosse um documentário rodado nos
anos 80, misturando cenas reais com cenas de ficção. Para isso usaram câmaras
Ikegami de 1983 que não deixam perceber diferença entre as cenas. Com isso, o
filme ganhou força de realidade. Mas é ficção. Seus personagens são “arquétipos”
das pessoas que viveram aquele contexto, menos Saavedra.
Em uma história de Davi e
Golias, Gael Garcia Bernal, o ator mexicano simpático e bonito, bem conhecido do
público (foi o Che Guevara de Walter Salles em “Diários de Motocicleta” 2004),
faz René Saavedra, o publicitário que volta do México, onde estava com os pais,
exilados políticos, para comandar a campanha do “NO”.
Com seu jeitinho de
garoto, andando de skate pelas ruas de Santiago, Saavedra revolucionou o campo
da publicidade política inventando o que, depois dele, foi copiado por todo o
mundo.
Ele intuiu,
acertadamente, que uma campanha para barrar o general Pinochet de suas intenções
de ganhar democraticamente o posto usurpado usando o plebiscito, tinha que ser
uma campanha alegre, jovem, exigindo com firmeza mas também com bom humor, que
os chilenos acordassem de uma letargia de 15 anos e se empolgassem pela causa do
“NO”, destronando Pinochet.
Saavedra soube ler no não
manifesto ainda, que o povo queria um outro futuro para o seu país mas havia
muito medo em expressar essa opinião. Tanto temiam o retrocesso anunciado pelos
militares, como a força da ditadura que calava à força os opositores. Conquistou
os amedrontados com a alegria contagiante da campanha do famoso arco-íris,
canções divertidas e depoimentos emocionantes cheios de esperança pelo futuro
melhor para todos.
O “NO”ganhou com 56% dos
votos.
O terceiro longa do
diretor Pablo Larraín, ganhou o prêmio “Art Cinema Award” em maio de 2012 na
Quinzena dos Realizadores no último Festival de Cannes e o prêmio de melhor
filme do público na última Mostra de Cinema de São Paulo, que foi inaugurada com
a exibição de “NO”. E já está entre os nove estrangeiros dos quais sairão cinco
para os indicados a melhor filme estrangeiro no Oscar.
Quem assina a produção de
“NO” é Daniel Dreifuss, nascido na Escócia mas que se considera brasileiro. Ele
é filho do cientista político René Dreifuss (“1964- a conquista do Estado”). Foi
ele que conseguiu o dinheiro americano para o projeto.
Filme político? Filme
comercial? As opiniões divergem mas uma coisa é certa: “NO” é
original.
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