Direção: Tom Hooper
Quer se emocionar? Reencontrar a vontade de chorar com
uma cena arrepiante?
Vá ver “Os Miseráveis”.
Sim. É um musical. Mas se você der uma chance, vai ver
que não é um musical como os outros.
O dono da história é o francês Victor Hugo (1802-1885)
que escreveu um dos romances mais lidos da literatura, “Os Miseráveis”, publicado em 1844.
Em 1980, o diretor e ator francês Robet Hossein teve a
idéia de transformar o livro em musical, com libreto de Alan Boublil e música de
Claude-Michel Schonberg. Foi um sucesso que lotou o Palais des Sports em
Paris.
Daí a ser traduzido para o inglês e repetir o sucesso em
Londres (1985) e na Broadway (1987) foi um pulo. Teve até versão
brasileira.
Mas o musical “Les Mis”, como era conhecido, levou muito
tempo para conseguir chegar ao cinema. Musicais são difíceis para o grande
público. E “Os Miseráveis” é todo cantado.
Tom Hooper, o oscarizado diretor inglês de “O Discurso
do Rei”, ousou o que ninguém tinha tido a coragem de fazer antes. E acertou em
cheio.
Sua versão para o cinema já ganhou o Globo de Ouro para
o filme, ator (um maravilhoso Hugh Jackman) e atriz coadjuvante (Anne Hattaway).
Tem sete indicações para o Oscar.
Espetáculo belíssimo, emociona e conquista o espectador,
que se sente muito próximo de Jean Valjean, Javert, Fantine, Éponnine e Cosette.
O bom cinema tem recursos que Hooper usou para trazer os personagens do século
XIX para o público do século XXI. Quando cantam, seus closes e a câmara ao redor
e próxima, torna todos nossos íntimos.
A cena inicial já é de tirar o fôlego. Jean Valjean
(Hugh Jackman), com outros condenados acorrentados, puxa para as docas um imenso
galeão. Aliás, a primeira música, “Look down”, é a única que não foi cantada ao
vivo no “set” de filmagem. Não dava. A água toma conta do cenário. Mas todas as
outras canções são cantadas na hora em que a cena foi filmada.
Esse recurso foi um achado de Hooper, que não buscou
colocar cantores em cena, mas atores. Então, as músicas ganham um contexto
dramático nunca conseguido quando a preocupação é sómente cantar
afinado.
A melhor cena de Anne Hattaway, não seria o que é, sem a
cuidadosa direção de Hooper que faz a canção “I had a dream”, soar como se nunca
a tivessemos ouvido antes. A Fantine de Anne Hattaway, a sofrida mãe de Cosette,
nunca foi tão comovente e frágil. Globo de Ouro merecido.
Os momentos cômicos, que aliviam um pouco a tensão são
do casal Thénadier, interpretados por Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen,
os aproveitadores, ladrões e fingidos donos da hospedaria que maltratam a
pequena Cosette (uma bela e delicada Amanda Seyfried quando
mocinha).
Javert (Russell Crowe) persegue Jean Valjean com a
tenacidade daqueles que são severos e estreitos no cumprimento da lei ao pé da
letra. E o pobre Jean Valjean leva uma vida triste, com raros intervalos de
felicidade, porque no fundo, condena a si mesmo tanto quanto seu carrasco.
Diríamos que o superego cruel dos dois, os faz inimigos íntimos e
iguais.
É uma história que tem um conteúdo humano universal.
Tratada como foi, torna-se um espetáculo belo e tocante.
Não percam.
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