Direção: Brillante Mendonza
Um pesadelo. Mas que foi real para as pessoas que
passaram um ano como réfens de guerrilheiros muçulmanos nas
Filipinas.
Aprisionados quando o resort em que estavam na ilha de
Pallawan foi invadido, em maio de 2001, um grupo de estrangeiros e nativos foi
obrigado a seguir o bando de fanáticos separatistas que lutavam pela
independência da ilha de Mindanao. Primeiro por mar, em barcos rústicos, depois
por terra, levando sómente a roupa do corpo e medo na alma.
Aterrorizados, andando a esmo pela floresta tropical,
amarrados como bichos, descansando quando mandavam, atacados por formigas,
vespas, sanguessugas, mosquitos, comendo as sobras que lhes davam e esquecidos
do mundo, foi um milagre que alguns sobrevivessem.
Ameaçados por seus sequestradores, que pediam resgates
cada vez maiores para seus parentes, a situação deles piorava cada vez mais,
colhidos no meio dos tiroteios entre o exército filipino e os guerrilheiros.
A câmara de Brillante Mendonza, filipino de 42 anos, não
descansa. De propósito, cruel, ele faz com que o espectador se sinta tão
desesperado como os atores que ele filma, tensos e exaustos.
Isabelle Huppert, a maravilhosa atriz francesa que só
faz filmes que ela escolhe a dedo, não hesitou e aceitou o convite de Mendonza
para fazer “Em Nome de Deus”, no papel de uma missionária
católica.
Ela vai do medo e raiva iniciais a cenas líricas, como
quando conversa e põe para dormir, em
seu colo, o menino guerrilheiro e escuta
as razões dele para a vida que ele leva.
Enquanto isso, Brillante rasteja com sua câmara para
mostrar as serpentes, as formigas, os répteis ou alça vôo para seguir as aranhas
em suas teias, os pássaros e seus cantos ou ainda a luz dourada de um raio de sol que penetra a floresta na
manhã.
Parece dizer que, naquele lugar, a natureza passaria
muito bem sem a presença daqueles homens e mulheres desesperados. Nesses
momentos de respiração, a floresta, em sua indiferença natural a tudo que não
seja a sobrevivência, acolhe seres humanos da mesma forma que faz com os outros
animais.
Um filme duro e belo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário