Direção: Nadine
Labaki
Ouve-se o vento do
deserto.
O que fazem aquelas
mulheres de preto, rostos graves, umas com véus, outras com cruzes, andando
juntas numa coreografia de uma dança sem alegria?
Vão ao cemitério,
dividido em dois, a cruz e a crescente, onde se lembram de seus pais, maridos e
filhos mortos.
Uma voz feminina
diz:
“- A história que vou
contar é para quem quiser ouvir. É a história de um povo isolado, cercado por
minas, de duas guerras, sozinho entre o céu e a terra, de dois clãs com o
coração ferido, as mãos manchadas de sangue, em nome da cruz e da meia lua. De
um povo que escolheu a paz. De mulheres vestidas de preto, seus olhos maquiados
com cinzas. Quis o destino fazer da coragem delas a sua
virtude.”
As casas de cristãos e
muçulmanos, na mesma aldeia, se enlaçam com fitas.
E o amor pode até
acontecer na fantasia da bela Amale (Nadine Labaki) e do viril Rabih (Julian
Fahrat), revelado pelos olhares furtivos trocados entre eles na vida real,
envolvidos em uma dança sensual na imaginação.
Mas, como é natural, o
ódio também se revela, quando chegam notícias de incidentes entre cristãos e
muçulmanos no país.
E, quando a única
televisão que existe é tirada de seu esconderijo na casa do prefeito, o
noticiário se encarrega de alimentar as desavenças
adormecidas.
As mulheres se entreolham
e percebem que precisam agir para que seus homens esqueçam a loucura da guerra
religiosa. Afinal, elas mantém a paz na aldeia às custas de queimar jornais,
sabotar acesso ao rádio e à televisão e esconder as armas.
À noite, fios são
cortados e a televisão já não é mais um perigo.
Mas o ódio acordou no
coração dos homens e, embora tanto o padre quanto o imã tentem dissuadir, cada
qual o seu povo, na igreja e na mesquita, escaramuças
acontecem.
As cabras silenciosas
observam as mulheres preocupadas.
“- Será preciso um
milagre para acalmá-los”, diz uma delas em suas reuniões
ecumênicas.
E fazem o milagre
acontecer mas não resolve.
É então que a ideia-mãe
brilha nas cabeças femininas. Sexo sempre distrai os homens. Principalmente
quando é novidade, veste roupas justas e saltos altos em pernas
longas.
Sério e divertido,
inspirado e comovente, “E Agora Onde Vamos?”, tem música original de Khaled
Mouzanar, marido da diretora, que é muito bem usada para ajudar a contar a
história e introduzir tanto o humor quanto a tristeza.
Os atores, excelentes e a
diretora que também atua, são coadjuvados por habitantes de dois vilarejos do
Libano, que avivam a cor local.
O segundo longa da bela
Nadine Labaki de 38 anos, (o primeiro foi o festejado “Caramelo” de 2007) é uma
fábula sobre o poder do matriarcado, cuja guerra é sem rancor e para proteger
aqueles que elas amam.
A diretora, que também
ajudou no roteiro, dedica seu filme “às nossas mães”. Àquelas que nos deram a
vida.
O bem mais
sagrado.
“E Agora, Onde Vamos?” é
um filme original, com uma contundência envolvida em charme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário