Direção: Ken
Loach
Um homem jovem, que
parece muito perturbado, está numa balsa que cruza um mar cinzento. O grito das
gaivotas se mistura, em sua cabeça, com as últimas palavras de seu amigo,
ouvidas em mensagens deixadas em seu celular. Mensagens de socorro que ele não
ouviu a tempo...
Lembra-se deles dois,
nessa mesma balsa, anos atrás, felizes, sonhando em conhecer o mundo, viajar
para lugares distantes da Liverpool, onde nasceram e cresceram juntos. Como
irmãos.
Nunca
mais.
Fergus (Mark Womack, ator
emocionante) pensa em Frankie (John Bishop), que ele convenceu a ir para o
Iraque, para trabalharem juntos como mercenários, em uma empresa de segurança.
Ele voltou mas seu amigo...
Ao entrar na igreja onde
será feito o serviço fúnebre, é atacado por uma moça loura (Andrea Lowe), que
grita:
“- Eu odeio você! Você
matou Frankie!”
Seu belo rosto
desesperado está tão pálido como o do amigo Fergus. Rachel era a namorada de seu
querido Frankie, que ele nunca mais verá.
“- Eu preciso vê-lo”,
implora Fergus.
“- Mas o caixão está
lacrado. Seu amigo foi muito ferido, muito machucado... Sinto muito...”, diz o
responsável.
Quando as luzes se apagam
na igreja, Fergus abre o caixão com um pé de cabra e procura a mão do
amigo.
“- Frankie, o que fizeram
com você?”
O que Fergus vai fazer?
Vingar-se. Ele vai atrás, para descobrir o que aconteceu com seu amigo no
Iraque, na chamada Rota Irlandesa, a estrada mais perigosa de
Bagdá.
Mas nada vai adiantar
porque o luto de Fergus é um luto impossível. A culpa o persegue desde que
voltou da maldita guerra. O pesadelo recorrente, que mostra a menina quase morta
apontando um dedo acusador para ele, não o deixa dormir.
Ele mora em um
apartamento que parece um acampamento. Uma cama de campanha, um computador sobre
uma mesa. Na verdade, ele não voltou do Iraque. Sua alma ficou
lá.
“- Eu só queria ter de
volta quem eu era...” soluça ele para si mesmo.
Ken Loach, o premiado
diretor de “Ventos da Liberdade”, faz em “Rota Irlandesa” um filme sobre a
impossibilidade de alguém voltar ileso de uma guerra.
Com cenas reais de
morticínios no Iraque, Loach e o
roteirista Paul Laverty, alertam para o horror da guerra que é mostrada
ao vivo.
O desespero de todos e a
culpa, que não deixa viver, são o mais forte libelo contra a insanidade e a
barbárie.
Quando é que vamos acabar
com essa loucura? É a pergunta do filme “Rota Irlandesa” que os homens ainda não
escutaram.
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