Direção: Wes
Anderson
Para alguns de nós, a
infância é um paraíso perdido... Para outros é o contrário. Crianças que queriam
crescer logo e parar de obedecer aos adultos ou pior, sofrer nas mãos
deles.
Mas ninguém esquece que,
na infância, brincávamos de ser gente grande.
Quando “Moonrise Kingdom”
começa, já dá para perceber que tudo vai ser muito diferente do habitual.
Por exemplo, a casa da
família Bishop, parece ser uma casa de bonecas, sem a quarta parede. Entramos
nela e tudo faz lembrar aqueles móveis minúsculos com que as meninas decoravam
suas casinhas de brinquedo. E ela é vermelha, bem berrante.
Aliás, todas as cores do
filme são intensas, uma alusão, quem sabe, às emoções infantis que são como que
vulcões pré-históricos.
Tudo lembra os nossos 12
anos. Assim, os mapas da ilha de New Penzance, onde se passa a história, lembram
os de Tom Sawyer, os de Peter Pan e as aventuras de piratas e tesouros
escondidos.
“Moonrise Kingdom” é um
filme para adultos que vê o mundo com esses olhos infantis, que ainda vivem
dentro de nós e que reaparecem às vezes, para nos mostrar outras
perspectivas.
O diretor Wes Anderson
faz uso desse olhar infantil que recria o mundo à sua semelhança e nos
reconforta. Em suas próprias palavras, numa entrevista a Luiz Carlos
Merten:
“A coisa mais
interessante de “Moonrise Kingdom”, para mim, é que os jovens, mesmo sem
sabedoria, têm uma visão mais clara dos seus desejos e da forma de
concretizá-los. Adultos tendem a ser complicados.”
E os adultos complicados
do filme são interpretados por atores consagrados como Bill Murray (o pai),
Frances McDormand (a mãe), Tilda Swinton (a assistente social), Bruce Willis (o
policial), Edward Norton (o chefe dos escoteiros).
À medida que o filme
transcorre, nossas lembranças afetivas da infância, afloram. E embarcamos
nelas.
O amor pré-adolescente de
Suzy Bishop (Kara Hayward), que tem 12 anos e se considera incompreendida pela
família da casa vermelha e de Sam (Jared Gilman), o escoteiro órfão, alma gêmea
de Suzy, toca o nosso coração em um lugar onde moram as injustiças que sofremos
durante a vida.
E torcemos por eles, para
que inaugurem um novo reino sob o signo do amor e da compreensão mútua: o Reino
do Nascer da Lua.
A trilha sonora usa
lindamente temas de Benjamin Britten e outros.
E não saiam correndo
porque vão perder o roteiro que Britten escreveu para se entender como funciona
uma orquestra, que acompanha os créditos finais. Uma alusão direta ao trabalho
de cada um no mundo.
Se tocarmos todos juntos
e se entrarmos na hora certa com o nosso pedaço da melodia, a beleza vai
acontecer.
Estranho e familiar,
assim é o novo filme de Wes Anderson, que gosta de
surpreender.
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