“Freud”- Idem, Áustria, Alemanha, 2020
Direção: Marvin Kren
Definitivamente o Freud apresentado na série da NEFLIX não
tem nada a ver com Sigmund Freud, famoso médico austríaco, pai da psicanálise,
nascido de uma família de judeus, em 6 de maio de 1856, durante a vigência do império
austro-húngaro, sob Francisco José.
Já na primeira cena do primeiro capítulo, quem conhece a
história do cientista célebre, percebe que não vai assistir a episódios
verdadeiros de sua vida, mas pura ficção que usa Freud como pretexto para
contar uma história rocambolesca e por vezes ridícula.
Com que propósito o roteiro inaugura a série com o suposto
Freud ensaiando com a própria empregada uma cena de falsa hipnose que será
apresentada na Universidade de Viena aos professores ilustres? Freud um charlatão?
Vamos esclarecer esse fato. Formado pela Universidade de
Viena, Freud estudou também em Paris com o famoso professor Charcot no Hospital
La Salpetrière e lá conheceu a hipnose e as famosas histéricas.
Freud não escondia que tinha dificuldades em hipnotizar e
foi graças a isso que nasceu a terapia da fala, batizada de “limpeza de
chaminé” pela primeira paciente histérica, Anna O. (Berta Pappenheim), que
Freud herdara de Breuer
Portanto, quem vai assistir à série tem o direito de saber
que não vai ver a biografia de Freud, mas a uma série de eventos imaginados com
a intenção de prender o espectador com golpes de estado, erotismo, espiritismo,
magia, bruxaria, assassinatos e sangue muito sangue.
Nada contra a imaginação. Mas Freud não tem nada a ver com
isso.
Robert Finster está muito bem no papel do jovem médico, e
Ella Rumpf, ótima atriz, faz a paciente chave na série, uma bela húngara, que
seria médium, explorada por um casal de húngaros (Georg Friedrich e Anje Kling)
mal intencionados.
Outro uso indevido do roteiro é dar o nome de Fleur Salomé a
essa paciente que estaria possuída por um demônio ou pela histeria e se envolve
com o médico. Claro que a intenção é fazer lembrar de Lou-Andreas Salomé,
também psicanalista, que nunca foi amante de Freud mas muito próxima dele,
tanto que frequentava o grupo das Quartas feiras que se reunia para discutir os
casos clínicos e a teoria psicanalítica, em torno a Freud.
O roteiro de Stefan Brunner e Benjamin Hessler tem algumas
passagens interessantes e esteticamente atraentes mas é confuso e por vezes
beira o ridículo.
A produção da série é magnífica quando se trata de retratar
a Viena Imperial e seus habitantes com locações bem escolhidas e cuidado nos
mínimos detalhes de decoração e figurinos.
Portanto, estão avisados. O Freud da série não é
Sigmund Freud, pai da psicanálise, um dos homens mais célebres do século XX.
Vou sugerir para quem quiser se aproximar de algo mais
verdadeiro sobre o assunto, o filme de John Huston de 1962, que também é uma
biografia romanceada, com roteiro de Jean-Paul Sartre que ganhou o Oscar e um
magnífico Freud interpretado pelo saudoso Montgomery Clift.
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