Direção Shekar Kapur
As mais conhecidas histórias da Inglaterra contadas em
filmes devem-se ao rei Henrique VIII (1491-1547), por causa de seus inúmeros
casamentos e da briga com a Igreja Católica.
O primeiro com a espanhola Catarina de Aragão, viúva de seu
irmão, muito católica, deu-lhe cinco filhos, dos quais sobreviveu apenas Maria,
depois Maria I.
Não conseguindo que o Papa anulasse esse casamento que não
lhe dera herdeiro homem, o rei decretou uma separação da Igreja Católica,
fundando a Igreja Anglicana, baseada na Reforma de Lutero, da qual era o chefe.
E casou-se com a nobre inglesa Ana Bolena, com quem teve uma
filha, Elizabeth (1533-1603). Podemos imaginar o sofrimento dessa pobre criança
que tem sua mãe decapitada por um não provado crime de traição e incesto. Seus
direitos ao trono foram retirados. A corte lhe é hostil.
Esse começo de vida atribulado vai influenciar a
personalidade da menina que se retira da corte e passa a infância e a
adolescência estudando em Cambridge. Voltou só em 1544 quando seus direitos ao
trono foram novamente reconhecidos.
Morto Henrique VIII em 1547, foi sucedido por Eduardo VI,
filho do terceiro casamento do rei com Jane Seymour, que morreu jovem e Mary I,
filha de Catarina de Aragão, que fez o catolicismo voltar à Inglaterra. Seu
reinado foi sangrento.
Foi destronada por Elizabeth I em 1558, que instaura a volta
ao anglicanismo e será odiada pelos católicos.
Nas primeiras cenas do filme vemos uma menina vestida de
rainha ser apresentada à multidão. É Mary, rainha da Escócia, prima de
Elizabeth I, apresentada ao povo por Felipe II, rei do maior império da Europa,
a Espanha.
A história de Elizabeth volta a ser contada pelo filme. Ela
tem 25 anos e um temperamento de líder. E se sente ameaçada por Mary Stuart,
rainha da Escócia e viúva do rei da França, François II, que nunca havia
renunciado a seu direito ao trono inglês e que estava voltando para a
Inglaterra.
Mary Stuart é filha do falecido rei da Escócia Jaime V e da
irmã de Henrique VIII, Marie de Guise. Ela considerava a filha de Ana Bolena
como bastarda, já que o casamento de seus pais não fora realizado com a benção
da Igreja Católica.
Durou vinte anos o embate entre a bela Mary Stuart e a
Rainha Virgem, como era conhecida Elizabeth I. A história das duas primas foi
longa e terminou de maneira cruel. Trocaram cartas mas nunca se viram.
Cruel também foi Elizabeth para si mesma ao renunciar à
paixão que sentia por Sir Walter Raleigh, optando pela felicidade de sua dama
de companhia Bess, sua preferida e confidente.
E Elizabeth obrigou-se a renunciar ao amor de um homem e de
um filho porque se sentia insegura e perseguida. Não queria ter dono. Queria
ser ela mesma. Dedicou-se a servir seu povo e governar.
Elizabeth I, a rainha que trouxe para a Inglaterra um período
de paz, prosperidade e riqueza, foi seu próprio mestre.
Cate Blanchet interpreta com uma sinceridade comovente o
papel dessa rainha que tinha o poder e só lá no fundo sabia da dor da solidão
que a acompanhava.
Esteticamente bem elaborado tanto nas locações, quanto nas
cenas de batalhas em terra e no mar, o filme é suntuoso. E os figurinos são um
show à parte. A escolha das cores e dos toques de contemporaneidade dos trajes
da corte, tanto masculinos quanto femininos, demonstram competência e criatividade.
Uma história real contada com brilho e beleza.
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