“18 Presentes”- “18 Regali”, Itália, 2020
Direção: Francesco Amato
Naquele bairro bem cuidado, de casas parecidas, cercadas de
gramados, tudo parece correr bem.
Elisa (Vittoria Puccini), sentada na mesa de sua cozinha
escreve uma lista. Está ensimesmada e a caneta por vezes permanece no ar
enquanto ela pensa.
Quando o marido Alessio (Edoardo Leo) a chama para falar
sobre um torneio de futebol e da viagem que terá que fazer, Elisa aproveita e
reclama que ele não tirou as coisas dele daquele quarto que vai ser o do bebê
que estão esperando. Ele reluta um pouco mas dá razão à mulher.
Os dois parecem felizes e apaixonados.
Elisa estava em sua agência de empregos quando percebe que
está tendo um sangramento. Na ultrassonografia, que corre para fazer no
hospital, parece que tudo vai bem com o bebê:
“- Foi só um deslocamento da placenta. A menina está bem “
diz o médico.
“- Menina!” exclama Elisa feliz, que não sabia o sexo do
bebê.
“- Infelizmente não tenho boas notícias para você Elisa...”
E os exames, confirmam o temor do médico porque havia um
tumor maligno incurável.
“- Mas vou conhecer a minha filha? “
Ninguém tem essa resposta para Elisa. Frente a essa dúvida
cruel, a saída que ela escolheu foi a de fazer uma lista com os presentes que
ela escolheria para cada aniversário da filha até os 18 anos. Será que ela vai
pensar na mãe através dos presentes escolhidos com tanto cuidado? Assim Elisa
esperava que acontecesse.
No dia em que nasce Anna, Elisa se vai. Emocionado e
assustado aquele pai não sabe como vai ser a vida dos dois sem ela. Não vai ser
fácil.
E a cada aniversário da menina vemos a festinha e o presente
imaginado por Elisa e colocado na lista. Sempre feliz com o que a mãe pensara
para dar a ela, Anna surpreende a todos porque o piano, presente daqueles 8
anos, ela detestou.
E os anos passam e alguns aniversários depois ela já está
crescida e já sabe que a mãe morreu quando ela nasceu. Os adultos, bem intencionados
mas totalmente enganados, pensaram que ela sofreria menos se contassem que a
mãe estava fazendo uma longa viagem.
E é então que Anna deixa sair a revolta surda em que vivera
imersa. Foge de casa na véspera dos 18 anos e segue pela estrada pedindo carona.
Anna (Benedetta Porcaroli) é esguia, morena e tem brilhantes
olhos azuis. Logo para uma Ferrari. Uma carona com um homem mais velho poderia
acabar mal, se não fosse o fato que ele conhecia o pai de Anna. Preocupado,
liga para ele. E Anna foge atrapalhada. Está confusa, distraída. Não vê o carro
que se aproxima e a atropela. Caída na estrada é acudida por uma mulher que se
debruça sobre ela. Reconhecemos Elisa, a mãe de Anna.
E é nesse momento que o filme, com bastante originalidade,
deixa em aberto o que teria acontecido.
O espectador pode entender à sua maneira, através da
espiritualidade, religião ou mesmo ficção científica. Para mim, Anna
desacordada, vai para um estado entre mundos onde acontece um sonho ou delírio,
algo que ela precisava vivenciar.
A primeira parte do filme é baseada em fatos reais mas a
segunda é fantasiada. O pai de Anna ajudou na escrita do roteiro através das
muitas cartas que Elisa deixou para que ele lesse depois da morte dela.
Emocionante e com uma solução bem desenvolvida que
possibilita o luto que Anna não tinha vivido, “18 Presentes” é delicado e nada
melodramático.
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