“Mulher Solteira Procura”- “Single White Female”, Estados
Unidos, 1992
Direção: Barbet Schroeder
Aquelas meninas gêmeas se maquiando na frente do espelho,
experimentando brincos e colares são uma lembrança que toda garota tem. Com a
irmã ou amiguinha, a exploração do feminino começa assim. E precisa ser em
dupla para uma se ver na outra. Quem é a mais bonita?
Barbet Schroeder, 78 anos, filmou “Mulher Solteira Procura”
em 1992. Tinha 50 anos. Dois anos antes assinara “Reverso da Fortuna” quando
Jeremy Irons ganhou seu Ocar interpretando o marido que assassina sua mulher
rica da alta sociedade (Glenn Close). O cineasta também foi indicado ao Oscar
por esse filme, sucesso de crítica e público.
Se observarmos os dois filmes veremos, em ambos, referências
à dissimulação, inveja e maldade, tendo como objetivo roubar riquezas (o ter) e
algo muito mais perverso, querer para si a identidade do outro e sua existência
como pessoa (o ser).
Pena que o roteiro de Don Ross, que é uma adaptação do livro
de John Lutz, não aprofunda a vertente psicológica em “Mulher Solteira Procura”
porque é aí que está o ponto nevrálgico, o que fala sobre a natureza humana e a
inveja do mal contra o bem, que une os dois filmes aparentemente diferentes.
Escondida no fundo do poço do humano há sempre essa face do
mal que, quando descontrolada, sobe à superfície e faz estragos.
Não basta roubar o que o outro tem de bom, não basta imitar,
não basta se aproximar. A sedução do mal é a do vampiro. Disfarçada de ajuda e
amizade, até de amor, prepara o momento em que o pescoço do outro se oferece à
mordida fatal. A dupla tem tudo a ver. Não há carrasco sem vítima.
É o que vemos nesse filme que conta a história de uma bela e
estilosa ruiva, Allison Jones (Bridget Fonda), que trabalha com moda e tem um
namorado atraente mas volúvel, Sam (Steven Weber). Quando ela descobre que ele
transou com a ex, fica muito brava e rompe o relacionamento.
Mas Allison é insegura e não gosta de ficar sozinha. Anuncia
então num jornal que procura uma moça solteira que não fume, para repartir
moradia. Muitas entrevistas depois, ela escolhe Herdra Carlson (Jennifer Jason
Lee), que parece tímida, boazinha e carente.
Allison e Hedy se dão muito bem nos primeiros dias. Ambas
gostam das mesmas coisas e adotam um cachorrinho. Até que começam a aparecer os
sinais que a outra não é o que Allison pensava que ela era. Uma escada revela
uma outra Hedy.
As jovens atrizes estão perfeitas e o clima do filme só
piora quando fica muito parecido com outros que já vimos.
Mas, mesmo assim, vale apena ver esse suspense.
A estética dos anos 90 é manejada com talento, tanto nos
figurinos quanto na produção de arte, pela famosa italiana Milena Canonero, 74
anos agora, que teve duas indicações ao Oscar.
Atuações excelentes, clima bem criado e um bom suspense
fazem desse filme uma sugestão certa para aqueles que não se apavoram com um
pouco de sangue.