“O Caso
Richard Jewell”- “Richard Jewell”, Estados Unidos, 2019
Direção: Clint Eastwood
A primeira vez que o advogado Watson Bryant (Sam Rockwell)
notou a existência de Richard Jewell foi no escritório onde ambos trabalhavam,
ele como advogado, o outro no almoxarifado. Quando foi pedir algo que faltava,
já estava tudo em suas gavetas. Jewell passara por lá antes dele chegar. Até
seus chocolates preferidos, que ele descobrira mexendo no lixo.
Jewell (Paul Walter Houser), um tipo obeso, com cara de bebê
chorão, obcecado em cuidar da segurança das pessoas e cujo sonho era ser
policial, era constantemente mal interpretado. Ele ultrapassava o que era seu
dever, o que fica claro quando o diretor do Piedmont College, o demite do posto
de segurança porque pessoas reclamavam que ele extrapolava de seu cargo,
parando carros na rodovia e invadindo o quarto dos estudantes. Seu perfil foi
considerado no mínimo estranho.
Em 1996, ele conseguiu um lugar na segurança do Pavilhão da
AT&T nas Olimpíadas. Sua mãe (Kathy Bates, indicada a melhor atriz no Globo
de Ouro), com quem morava, finalmente se orgulharia dele. Afinal, era quase um
policial, pensava ele, já que fora treinado para lidar com todo tipo de ameaça
à ordem que pudesse ocorrer.
Um misto de inocência, arrogância e falta de autocrítica
acabava sempre por afastar as pessoas dele. Seu sonho oculto era ser um herói.
Naquela noite o Centennial Park estava lotado, os shows se
sucediam e o público estava animado. Jewell chamara a atenção de uma garotada
que bebia e atrapalhava os outros. Como não deram a mínima, Jewell chamou os
policiais. É nesse momento que ele vê a mochila, debaixo de um banco.
Pois bem, Jewell imediatamente se encarrega de isolar o
lugar, avisando que poderia se tratar de uma bomba. Aos poucos as pessoas vão
se afastando.
Enquanto isso, uma telefonista do 911 recebe um chamado
anônimo, avisando que havia uma bomba que iria explodir no Centennial Park em
30 minutos.
A informação chega aos policiais que tentam evacuar o lugar
às pressas. Mas quando a bomba estourou, matou duas pessoas e feriu outras 111.
E podia ter sido bem pior. Se Jewell não tivesse dado o alarme.
Ele finalmente conseguira. Era um herói. Todos falavam dele
e queriam entrevistas. Ele escondia a euforia debaixo de uma capa de humildade.
Durou pouco. Dois dias depois, os mesmos que o exaltavam
passaram a desconfiar dele quando o FBI o elegeu como suspeito. Não havia
porquê. Não haviam provas. Apenas uma manchete lançava uma dúvida. Herói ou
terrorista? Uma jornalista irresponsável e ambiciosa (Olivia Wilde), induz o
redator do jornal de Atlanta a publicar na primeira página.
O roteiro muito bem escrito por Billy Ray e a direção segura
do diretor de quase 90 anos, mostra como a precipitação e a ambição podem ser
fatais.
Não fosse a defesa tranquila e firme daquele advogado que
Jewell conhecera lá atrás e que funcionou como uma espécie de terapeuta,
mostrando que ele não estava percebendo que todos ali, tanto o FBI como a
imprensa, queriam vê-lo condenado, o pobre homem seria mal interpretado em suas
próprias palavras.
O antigo prefeito de Carmel, cineasta e ator brilhante,
produz uma justa defesa do pobre Richard Jewell, que morreu aos 44 anos, dez
anos depois de tudo isso. E nos avisa que isso pode acontecer em qualquer
lugar, com qualquer um de nós, se estivermos no lugar errado, na hora certa.
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