“Judy:
Muito Além do Arco-Iris” – “Judy”, Estados Unidos, 2020
Direção:Rupert
Gool
Ela mereceu
seu canto do cisne. Apesar de triste, o dela celebrou uma vida dura, sofrida,
talvez mal aproveitada mas coroada de sucesso. Judy Garland pagou o preço da
fama aliada a um temperamento difícil.
No inicio
do filme a vemos como uma garota de olhos imensos, ouvindo de Louis B. Mayer, o
“big boss” da MGM, que tomasse cuidado:
“- Lá fora
tem outras mais bonitas do que você mas que não tem essa sua voz, Judy. Eu faço
filmes mas você é quem faz o dinheiro para mim com a venda dos ingressos. Quer
ser igual às outras? Que tem vidas pequenas e nada excitantes? Você é quem
escolhe.”
“- Claro
que quero continuar no estúdio”, responde ela, amedrontada diante do
homenzarrão.
“- Você
sabe que é a minha preferida.”
E essa
garota que tinha aquela voz única, teria que domar a sua fome tanto de comida
como de carinho, engolindo pílulas, colocadas em sua cabeceira por ordem do
“big boss”.
E lá vai
Judy ter uma vida excitante e sofrida. Quatro casamentos, três filhos e no
final, sem dinheiro para comprar uma casa e viver bem.
Aos 47
anos, ela vai para Londres para fazer dinheiro, cantando no “The Talk of the
Town” em 1969. Mas, apesar da voz ainda pessoal e única e com uma interpretação
de arrasar, quando estava bem, a maior parte do tempo ela estava mal. Bebida e drogas,
que não a deixavam dormir. Estressada, infeliz e raivosa, chegou a brigar com a
plateia que tinha comprado ingressos caros para vê-la cantar.
Renée
Zellweger está muito bem no papel. Passa toda a tragédia de sua personagem, que
nunca deixou de ser uma criança nevosa, principalmente porque não tinha tido
uma infância normal. E havia uma mãe inadequada, ainda por cima.
Zellweger
canta com sua própria voz, às vezes ao vivo, sem medo de não estar à altura.
Claro que são vozes diferentes mas a “persona” de Judy está no palco e fora
dele.
Renée
Zellwager dança, faz cenas de brigas, tem ataques de raiva, desespero e
impotência perante os problemas da vida. Assim era Judy, sem talento para a
dificuldade.
As filhas
de Judy, Liza Minelli e Lorna Luft, que aparecem pouco no filme, não aprovaram
o roteiro. Mas como contar a história de Judy Garland? Os “flashes” que a
acompanhavam onde ia são testemunhas dos vexames e dos sorrisos falsos.
E o filme
faz uma reflexão sobre uma artista que não conseguiu administrar a própria
vida, apesar do talento inegável para o palco.
E tudo isso
acabou aos 47 anos, quando ela deixou de sofrer, para se tornar uma lenda. O
filme conta seu último ano de vida. Mas ela estará sempre viva “Além do
Arco-Iris”.
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